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Estresse na gestação favorece o desenvolvimento de resistência insulínica nos filhos do sexo masculino, aponta pesquisa da UFF

 


O período gestacional é fundamental para o desenvolvimento dos bebês, nesse momento o corpo da gestante passa por importantes mudanças, de modo que alterações negativas na saúde da mãe podem levar a problemas para os seus filhos ao longo da vida. De acordo com o estudo realizado por pesquisadores dos programas de Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares e Ciências Biomédicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), o estresse durante o período gestacional favorece o desenvolvimento de resistência insulínica nos filhos do sexo masculino.

O estudo, que teve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), leva em consideração a teoria de Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença (DoHaD), através da qual se estabelece que fatores ambientais durante o momento da concepção e/ou vida fetal podem explicar, em parte, o desenvolvimento de doenças na vida adulta. A professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia e da Pós-Graduação em Ciências Biomédicas e em Ciências Cardiovasculares da UFF, Natália Galito Rocha Ayres, explica a relação entre a teoria DoHaD e os estudos realizados. “Baseado na teoria DoHaD, insultos, como o estresse mental e privação de alimento, realizados em fases críticas do desenvolvimento, como gestação, lactação, infância, adolescência, podem contribuir para o aumento do risco de desenvolvimento de enfermidades na fase adulta. Doenças cardiometabólicas, como diabetes, obesidade e hipertensão, podem ser parcialmente explicadas pelo que o paciente viveu durante o período gestacional”.

As pesquisas realizadas no Laboratório de Ciências do Exercício (LACE) foram aprovadas pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA/UFF) e fazem parte das dissertações de mestrado dos alunos Juliana Mentzinger Silva e Gabriel Fernandes Teixeira, orientadas pelos professores Natália Galito Rocha Ayres, Renata Frauches de Medeiros Coimbra, Helena Naly Miguens Rocha e Antonio Claudio Lucas da Nóbrega. No protocolo experimental, quatro estímulos foram aplicados com a intenção de induzir o estresse nas fêmeas, a maravalha molhada, uma espécie de forração com raspas de madeira usada nas gaiolas dos roedores, com intuito de tornar o ambiente mais úmido, a exposição a ambientes escuros, inclinação da gaiola e restrição de água e comida. Os animais foram submetidos a cada uma dessas experiências duas vezes, totalizando oito dias de exposição ao estresse ao final da gestação, o que equivale ao último trimestre da gestação em humanos. Dessa forma, após o nascimento dos filhotes, eles foram amamentados e posteriormente alimentados com comida e água à vontade. Um grupo de filhotes foi avaliado aos 21 dias de vida (imediatamente após a lactação) e o outro aos 90 dias de vida para análise dos parâmetros metabólicos e moleculares.


Nos filhotes de 21 dias de vida submetidos ao estresse gestacional, foi observado baixo peso ao nascer, tanto em machos quanto em fêmeas, quando comparados aos animais da mesma idade que não passaram por estresse na gestação. Já aqueles com noventa dias de vida, ou seja, considerados adultos, passaram por teste oral de tolerância à glicose e teste de sensibilidade à insulina, na busca por analisar o metabolismo da glicose.

“Nós realizamos os mesmos testes feitos em humanos para identificar alterações na curva de glicose do sangue. No caso do teste oral de tolerância à glicose, nós damos uma sobrecarga de glicose ao animal e depois avaliamos o nível de queda dela ao longo do tempo no sangue, através de sucessivas coletas”, pontua a orientadora Natália.

A professora afirma que os ratos Wistar são importantes para a realização de pesquisas como esta, uma vez que não seria possível eticamente a realização de testes com humanos. Além disso, o modelo experimental escolhido possui semelhanças cardiovasculares e metabólicas a seres humanos.

Os resultados dos testes moleculares realizados em ratos com 90 dias revelam alterações nas proteínas da via de sinalização da insulina nas células do fígado dos animais do sexo masculino, sugerindo um quadro de resistência insulínica. “A resistência insulínica é a fase que antecede a Diabetes mellitus tipo 2. Essa doença é caracterizada por um aumento persistente no nível de glicose do sangue e, frequentemente, está associada a obesidade e sedentarismo. Em condições fisiológicas, a insulina é produzida no pâncreas, liberada no sangue, se liga nas células e, assim, possibilita a captação da glicose, com redução dos seus níveis no sangue. Em indivíduos com resistência insulínica, o corpo produz a insulina, mas apresenta dificuldade em desenvolver a resposta na célula capaz de absorver a glicose. Dessa forma, pode ocorrer um aumento compensatório na produção de insulina nessas condições”, esclarece a docente.

Estudos sobre impacto na mãe

Os próximos passos da pesquisa pretendem estudar o impacto do estresse mental para a gestante e expandir a avaliação da saúde em ratos adultos para além da resistência insulínica. “Nós estamos investigando o papel do estresse de retículo endoplasmático, gerado por alterações no processo de formação e dobramento de proteínas, sobre o desenvolvimento da resistência insulínica nos filhotes do sexo masculino”, explica a pesquisadora.

Além disso, a intenção é avaliar se o treinamento físico aeróbico nos filhotes adultos submetidos ao estresse gestacional é capaz de reverter ou atenuar o quadro de resistência à insulina e outros possíveis eventos cardiometabólicos, etapa que vai ser conduzida através da tese de doutorado da aluna Juliana Arruda de Souza Monnerat do programa de Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares.

Fonte: UFF

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