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Vitamina D: consumo dobra no Brasil e vira alvo de grande preocupação dos médicos; entenda

 

Vitamina D: uso excessivo traz riscos

As intenções são as melhores: fortalecer o metabolismo, turbinar a imunidade ou sentir-se mais protegido contra a Covid-19. Os resultados, porém, vão na direção oposta e podem levar a dores de cabeça, náusea e até comprometimento da função renal. Este é o resultado da intoxicação por vitamina D, consequência do uso indiscriminado da suplementação da substância, cenário em alta no país e realidade relatada nos consultórios de endocrinologia. Para se ter uma ideia do aumento do consumo no Brasil, a vendagem de produtos do tipo praticamente dobrou entre 2019 e 2022, de acordo com a Associação Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac). Parte desse consumo (que feito de maneira orientada para os pacientes corretos faz bem) é justamente baseado nas defendidas propriedades “milagrosas” que a substância traria ao organismo. Ideia amplamente defendida em postagens na internet, mas sem a devida comprovação necessária.

O aumento de uso desse composto ao longo da pandemia da Covid-19, não é coincidência. Estudos iniciais identificaram que o déficit do índice dessa vitamina estava presente na maioria dos casos graves da infecção pelo coronavírus. Apesar do achado, é impossível dizer a essa altura do campeonato que a suplementação é um trunfo contra a doença e que poderia ser usada como prevenção ou tratamento. Prova disso é que que seis entidades médicas norte-americanas, ligadas à endocrinologia, calcificação de ossos e osteoporose, não concordam com uso do produto como ferramenta de combate para Covid-19 (e indicaram até o prosaico banho de sol por 15 ou 30 minutos para quem está em busca de índices melhores da vitamina). Os males que supostamente seriam aplacados pelo uso da "D" não param por ai: vão do autismo à bronquite, passando pelo câncer, tudo sem lastro em estudos científicos comprobatórios de larga escala, dizem especialistas.

—Temos visto cada vez mais o uso excessivo. Depois da pandemia piorou muito. Alguns estudos chegavam a sugerir um resultado 'milagroso' de seu uso, mas essas análises são pequenas e têm muitas limitações— diz Tarissa Petry endocrinologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. – Há o caso de uma paciente que veio com mais de 200 unidades de medida de vitamina D de exame (quando o normal é de 20 a 30) ela nem sabia que estava fazendo essa suplementação, pois tomava potes de pílulas diversas.

Em geral, essas pessoas buscam justamente garantir mais saúde e melhorar sua rotina. Há quem, inclusive, não goste de medicamentos tradicionais e prefira os suplementos por acreditar que trata-se de uma saída mais “natural” de encontrar bem-estar, explica Aline Guimarães de Faria, do Hospital Sírio-Libanês.

— Na realidade, a vitamina D age aumentando a absorção do cálcio no organismo. Ela ajuda principalmente na manutenção da massa óssea no corpo — afirma a médica. — Há grupos em que existe o maior risco de sua deficiência, como as pessoas acima de 60 anos e as que têm osteoporose, tem maior probabilidade de ter deficiência da vitamina. Os jovens, caso não exista uma doença relacionada, não costumam ter problemas. Somente algumas pessoas precisam efetivamente dessa suplementação.

A médica ainda diz que os estudos que levam em conta grandes quantidades do produto e sugerem benefícios para além da área óssea, são observacionais e esbarram num problema importante: a chamada hipercalceima — que é o aumento de cálcio no sangue, em decorrência do uso do suplemento. Os casos mais leves desse quadro apontam para náusea, vômitos, perda de peso e idas ao banheiro recorrentes para fazer xixi. Os mais severos e mais raros podem levar à prejuízo na função renal e confusão mental.

Não se trata, porém, de demonizar o vitamínico, que em doses moderadas aos pacientes corretos tem amplo valor. Marise Lazaretti-Castro, professora da Escola Paulista de Medicina e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), recomenda que a suplementação deve ser acompanhada de um especialista. Deve-se portanto fugir da compra livre desse suplemento na farmácia e duvidar de postagens nas redes sociais que sugerem rotinas com doses altíssimas do item. Nesses protocolos, explica a médica, o paciente é proíbido de consumir qualquer alimento que conténha cálcio. “Não pode nem olhar para o leite”, ela diz.

— As pessoas acham que quanto mais Vitamina D, melhor. O que é um engano — afirma Marise. — Há quem chegue a tomar 50 vezes mais do que o recomendado. Isso acaba desmoralizando a vitamina D, que é tão importante. A deficiência é ruim, mas o excesso é muito pior. A falta é crônica, os ossos se enfraquecem ao longo dos anos. A intoxição, por sua vez, ocorre em questão de meses.

Caso brasileiro

Um exemplo de como o uso da vitamina requer cuidados é o caso que envolve o laboratório STEM Pharmaceutical no Rio Grande do Sul. A empresa manipulou, de maneira equivocada, doses 500 vezes superiores que o recomendado para um dia. O episódio levou à intoxicação de uma mulher que chegou a ser internada com quadro de insuficiência renal em uma ala para pacientes com Covid-19 (a hipótese inicial do que estava causando seus sintomas).

Após o episódio, a Justiça determinou pagamento de indenização pela empresa por conta do ocorrido à paciente. Em nota, a STEM lamentou o caso e informou que “custeou todos os atendimentos, incluindo despesas com consultas, exames e tratamentos” de quem teve problemas com o consumo do suplemento. O recall do produto foi feito em todo o Brasil.


Para quem serve

É justa a preocupação sobre a deficiência de vitamina D no organismo, ainda mais em tempos nos quais as profissões sugerem mais tempo dentro de casa do que nas ruas. Os médicos, porém, pedem que quem quer fazer esse tipo de reposição, não hesite em realizar os exames periódicos e o faça para melhorar a saúde óssea, de maneira moderada. E, mais uma vez, com acompanhamento de um especialista.

— A dosagem (extra) de vitamina D não deve ser para todos. Apesar de vivermos cada vez mais em ambientes fechados, isso não acarreta problemas claros na saúde. O cenário é diferente, porém, para pessoas acamadas, mulheres na menopausa, pessoas com obesidade, osteoporose e as gestantes, nesses casos é necessário que seja avaliada a quantidade da vitamina D e que essa reposição ocorra — diz o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Albert Einstein. — Esse uso não deve ser de maneira nenhuma ser banalizado. Nem mesmo para Vitamina D, nem C, nem E.

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