Garotinho com dor — Foto: Freepik
Diz o ditado que crescer dói. Embora não haja confirmação científica de que o corpo se desenvolvendo acarrete mesmo em algum mal-estar físico, muitas famílias conhecem a tal ‘dor de crescimento’ que afeta suas crianças.
A dor recorrente em membros, o nome oficial do problema, afeta quase sempre as pernas de crianças e adolescentes entre os 3 e os 12 anos, geralmente em episódios recorrentes, no final do dia ou à noite, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria. Pode atingir de 3% a 37% dos pequenos, dependendo do país, mas é uma das causas mais comuns de dor musculoesquelética.
O termo dor de crescimento não é preciso. Primeiro porque não ocorre nos picos de crescimento, segundo porque, diferentemente do ditado, pelo menos na parte física, crescer não dói, ou seja, o aumento do esqueleto, dos ossos, não é sentido. No entanto, na falta de uma explicação mais específica, o problema mencionado pela primeira vez num livro em 1823 como “maladies de la croissance” (doenças do crescimento) pegou.
— É um termo inadequado, mas já consagrado, que eu até nem acho ruim, porque facilita sabermos a realidade da condição, que é super frequente — explica a pediatra Adriana Fonseca, do Departamento Científico de Reumatologia da SBP. — É bom porque é um termo também que tranquiliza os pais e as crianças de que de vai se resolver com o tempo.
Esse é o aspecto mais importante desse problema: ele é benigno, ou seja, não representa uma doença. É uma dor idiopática, o que quer dizer que nem médicos nem cientistas conseguiram descobrir a real causa.
“Várias causas têm sido propostas, incluindo fatores anatômicos, psicológicos, vasculares e metabólicos, mas provavelmente representa uma síndrome de amplificação da dor ou síndrome de sensibilização central”, diz documento sobre o assunto da SBP.
— Habitualmente, é nas pernas, mas fora das articulações. Então, dói a coxa, a canela, a panturrilha. Não é óssea, mas também não é muscular, é difusa, acometendo todas as estruturas daquela localização — diz Fonseca.
É uma dor aleatória. Não segue padrão de frequência, área do corpo, nem intensidade. Elas vão e voltam, costumam ser breves, durando poucos minutos, mas podem acordar a criança no meio da noite. No geral, surgem mais no fim da tarde e à noite, especialmente naquele dia que a criança brincou muito.
Embora cercada de perguntas sem resposta e sem grande preocupação envolvida, há algo de muito relevante na dor de crescimento: ela, de fato, dói. Não é frescura, invenção, nem manha.
— Não devemos minimizar, porque mesmo que não haja uma doença, é uma coisa que dói mesmo. Na maioria das vezes, só uma massagenzinha, só de você tranquilizar a criança, acolher, já melhora — afirma Adriana Fonseca.
A SBP recomenda que os pais tentem métodos não farmacológicos, como massagem e aplicação de calor local, como uma bolsa de água quente (cuidado para não entrar em contato direto com a pele e queimar). Caso ela persista, há, sim, a possibilidade de usar medicamentos analgésicos como paracetamol, dipirona, ibuprofeno ou naproxeno.
— Pode ser muito intensa, pode fazer a criança chorar, mas melhora rapidamente com massagem, com analgésico, às vezes um placebo, uma água com alguma gotinha de alguma coisa que dê um gostinho, um chazinho — reforça o pediatra e colunista do GLOBO Daniel Becker.
Quando se preocupar
Geralmente, quando os pais apresentam essa queixa ao pediatra, ele faz uma avaliação por anamnese.
“Não existe um critério de diagnóstico definido. O diagnóstico é feito por exclusão e não há alterações específicas em exames laboratoriais e de imagem, sendo necessário descartar outras causas como trauma e artrite. Entretanto, as características clínicas, anteriormente citadas, são bastante consistentes na maioria dos pacientes”, orienta a SBP.
Assim, não são pedidos exames especiais a não ser que haja algum sinal de alerta, que pode ser:
- inchaço nas articulações
- febre,
- íngua (gânglio linfático inchado,)
- vômito ou diarreia,
- dor sempre no mesmo local,
- dor persistente
- manchas na pele
- articulação quente ou vermelha
- mudança no quadro geral da criança (não come, não brinca, não dorme)
— Se a criança não tem nada disso, vai à escola, brinca, está normal, então, nesse contexto, a grande suspeita é dor de crescimento — diz a pediatra.
Um alerta importante que Fonseca faz éVárias causas têm sido propostas, incluindo fatores anatômicos, psicológicos, vasculares e metabólicos, mas provavelmente representa uma síndrome de amplificação da dor ou síndrome de sensibilização central”, diz documento sobre o assunto da SBP.
— A maior parte das dores do crescimento é passageira, leve e melhora com um tratamento simples e você não precisa se preocupar. Agora, com esses sinais de alerta, é sempre importante levar ao médico para ser examinada e possivelmente fazer exames. Na dúvida, não custa nada procurar o seu pediatra — conclui Becker.
Fonte: O Globo
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