Nos últimos anos, cientistas identificaram diversos sinais do desenvolvimento do mal de Alzheimer, como o acúmulo de placas de uma proteína defeituosa, chamada amiloide beta, no cérebro, o surgimento de acúmulos de versões anormais de outra proteína, batizada tau, dentro dos próprios neurônios e a presença de “enxames” de células do sistema imunológico ativadas no órgão. Mas como estes processos estão ligados, o que os desencadeia e como eles levam ao mau funcionamento e à morte dos neurônios que caracterizam a doença ainda é em grande parte um mistério. Agora, no entanto, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, revelaram uma sequência de eventos que pode ajudar a explicar como o cérebro de uma pessoa com Alzheimer fica doente, abrindo caminho para a criação de novas terapias que possam interromper este nefasto “efeito dominó”.
No estudo, publicado ontem no periódico científico “Cell Reports”, os cientistas primeiro expuseram células do sistema imunológico - chamadas macrófagos e micróglias - em um estado inflamatório, ou ativo, normalmente encontradas nos cérebros de pacientes de Alzheimer a pequenos agregados de amiloide beta defeituosa, ou oligômeros. Diante disso, as células de defesa do organismo produziram e liberaram substâncias conhecidas como citocinas, que regulam a resposta inflamatória.
Então, os pesquisadores colheram o meio onde estas células de defesa estavam sendo criadas e foram expostas às placas de amiloide beta, cheio dos também chamados “fatores neuroinflamatórios”, e o acrescentaram a culturas de neurônios corticais, isto é, como os do córtex cerebral. Com isso, estas células do sistema nervoso logo começaram a desenvolver agregados de proteína tau anormais em estruturas parecidas com as contas de um colar ao longo de suas terminações, dendritos e axônios, também comumente vistos nos cérebros de vítimas do Alzheimer e considerados sinais precoces da perda de neurônios nestes pacientes, embora ainda não se saiba muito bem como este processo provoca a morte celular.
— O que é animador é que conseguimos observar a tau, uma das principais proteínas envolvidas no Alzheimer, dentro destas estruturas como contas — diz Todd Cohen, professor de neurologia da Universidade da Carolina do Norte e líder da pesquisa. — Acreditamos que, se evitarmos que estas estruturas se formem, as pessoas ficarão com neurônios mais saudáveis que são mais resistentes ao Alzheimer.
Inibidores de ação de proteínas são esperança
Mas os cientistas não pararam o estudo apenas na determinação desta sequência de eventos. Usando equipamentos de espectrometria de massa, eles identificaram os fatores neuroinflamatórios que desencadearam a formação das “contas” de tau: as também proteínas chamadas MMP-9 e HDAC6. A primeira provoca um influxo de cálcio que inunda os neurônios, enquanto a segunda concentra a tau nas “contas”. Estas descobertas podem ajudar a explicar porquê inibidores da ação da HDAC6 atualmente em desenvolvimento pela indústria farmacêutica estão tendo resultados promissores em testes iniciais, já que sua função seria justamente detectar proteínas defeituosas no meio intracelular e transportá-las para descarte, que por alguma razão ainda também desconhecida não acontece nas células afetadas pelo Alzheimer.
— Acreditamos que nossos achados podem ajudar a guiar o desenvolvimento de outros inibidores que afetem esta sequência de eventos, particularmente aqueles que têm impacto nos processos cognitivos — avalia Cohen.
Fonte: Jornal Extra
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