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Professora da UFF ganha prêmio internacional com pesquisa anti-tuberculose




O Relatório Mundial da Tuberculose 2018 divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou poucas alternativas de tratamentos em potencial para infecções resistentes a antibióticos, sendo uma dessas ameaças a chamada tuberculose multidroga resistente (TB-MDR), que mata a cada ano mais de um milhão de pessoas. Grande parte dos medicamentos produzidos para o tratamento da tuberculose que se encontram em etapa de desenvolvimento são modificações de antibióticos já existentes, sendo assim, são meramente soluções a curto prazo.
Com foco nessa realidade, a equipe de alunos coordenados pela professora Vanessa do Nascimento, do Laboratório SupraSelen, localizado no Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense, reuniu esforços com outros dois docentes do Departamento de Química Orgânica, Marcela Cristina de Moraes e Fernando de Carvalho da Silva; e um do Departamento de Tecnologia Farmacêutica, Vitor Francisco Ferreira, para o desenvolvimento  de uma pesquisa que testou moléculas derivadas da vitamina K contendo selênio — mineral que entre seus principais benefícios combate o envelhecimento celular — para verificar sua atividade contra a tuberculose. O estudo realizado desde 2016 comprovou a eficiência do material testado no combate à doença.
Segundo a idealizadora do SupraSelen e professora do Departamento de Química Orgânica, Vanessa do Nascimento, o trabalho mantém uma promessa de progresso adicional na descoberta de novos antibióticos contra a doença resistente a medicamentos que são oferecidos pela indústria farmacêutica atualmente. “No presente momento, estamos finalizando os testes de toxicidade. A pesquisa é bastante promissora; sendo assim, esperamos que tenha alto impacto não só para a comunidade científica como para a sociedade em geral”, ressalta.
Uma das linhas de pesquisa desenvolvidas na pesquisa premiada apresenta caráter único e inédito para a ciência brasileira: a química supramolecular. De acordo com a professora, tal vertente visa estudar as características básicas das interações que ocorrem em casos de quando um suporte para organismos vivos, conhecido como substrato, se liga a uma proteína que dinamiza reações químicas (chamada enzima); e em casos de quando uma droga se adere ao seu alvo ou quando são propagados sinais entre células. A química supramolecular também pode ser implementada em sistemas mais complexos, assim como auxiliar na elaboração de sensores moleculares, nanomateriais (substâncias químicas inovadoras até 10 mil vezes menores que o diâmetro de um fio de cabelo humano), e também colabora no encapsulamento de drogas.
O estudo, denominado “Design and synthesis of selenium-containing naphthoquinone derivatives as antitubercular leads against clinical multidrug resistant isolates of Mycobacterium tuberculosis” foi apresentado no 8º Workshop da Rede Científica Internacional Selênio Enxofre e Catálise Redox (WSeS-8), ocorrido em junho deste ano na Itália, evento que reuniu centenas de cientistas de mais de 40 diferentes instituições de ensino espalhadas pelo mundo, tais como a Universidade de Copenhagen e a Universidade de Montevidéu. Na ocasião, a professora recebeu o prêmio PeerJ Award, e em função da premiação, foi concedido a Vanessa do Nascimento um espaço para publicação gratuita na revista inglesa de divulgação científica PeerJ Life & Environment, além de conceder uma entrevista para a versão online sobre o trabalho desenvolvido por ela no Laboratório SupraSelen.
Novas alternativas
Conhecida como o “mal do século” que assolou o mundo no século XIX, a tuberculose é vista como uma enfermidade do passado. Entretanto, só em 2017, provocou ao redor do mundo 1,3 bilhão de mortes, de acordo com a OMS. Causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, a doença geralmente atinge os pulmões – podendo também afetar outras partes do corpo. Porém, apesar do alto número de infectados, um dos maiores obstáculos em relação ao tratamento provém da resistência das bactérias aos medicamentos fornecidos pelo mercado farmacêutico.
A partir dessa constatação emergencial, a pesquisadora Vanessa criou em 2016 o Laboratório SupraSelen, especializado na obtenção de moléculas de selênio, que podem posteriormente serem utilizadas na composição de antioxidantes e anti-inflamatórios, por exemplo.
Os estudos com o selênio orientam a equipe na criação de novos produtos para o tratamento da tuberculose e outras doenças negligenciadas. “Sintetizamos moléculas que facilitam processos já utilizados pela indústria farmacêutica, tornando os medicamentos mais baratos ou melhor fabricados”, explica a pesquisadora. “Fazemos compostos que podem virar fármacos, um tipo de molécula que facilita a produção dos já existentes ou potencializamos sua atividade no organismo humano; também conseguimos minimizar efeitos colaterais provocados pelas drogas”, ressalta.
Dividindo o espaço físico do laboratório com os docentes Sérgio Pinheiro, Carlos Magno Rocha Ribeiro e Florence Moellman, cada qual trabalhando com seus alunos individualmente, Vanessa encontrou desafios na criação e posterior continuidade do SupraSelen. O capital encontrado para a manutenção do laboratório veio do auxílio do Programa de Fomento à Pesquisa da UFF (FOPESQ) e de um auxílio do Programa de Pós-graduação em Química aos docentes. Segundo ela, “para atrair os alunos no início, já que era um laboratório que ainda estava começando, nós trabalhamos a partir do encantamento: tentei passar para eles o que eu vejo da ciência e os encorajei a vestir a camisa e lutar comigo.” Atualmente, a docente da UFF orienta uma estudante de mestrado, dois de doutorado e quatro de iniciação científica, além de co-orientar uma doutoranda.
A aluna de doutorado e orientanda no SupraSelen, Ingrid Cavalcanti, relata que essa conquista trouxe esperança para o trabalho desempenhado com poucos recursos. “Nós sonhamos alto e conseguimos aos trancos e barrancos. Temos que ser bastante focados. Tudo o que produzimos serve de base pra mim, que pretendo seguir a carreira acadêmica. Temos dificuldades em relação à aquisição de material ou a burocracias, equipamentos caros; mas a universidade em si incentiva muito as pesquisas”. A participação dos discentes em projetos fornecem um retorno à sociedade — no caso, a produção de novos fármacos para um tratamento mais eficaz contra a tuberculose —,  reafirmando um desempenho e compromisso ímpares da comunidade acadêmica da UFF, assim como das outras universidades do país.
Ainda há muito trabalho pela frente. “A curto e médio prazo desejamos a publicação de artigos referentes às pesquisas e reconhecimento por parte da academia científica”, relata a pesquisadora. “A longo prazo, por que não, buscamos despertar o interesse de alguma indústria farmacêutica e sermos detentores da criação de um novo medicamento, produzido industrialmente, sendo capaz de ajudar a população, principalmente a de baixa renda”, conclui.

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