'É o momento do Brasil ficar em alerta, não em pânico’: diz integrante do comitê da OMS sobre o cenário atual da mpox
A declaração da mpox como emergência de saúde internacional é um alerta importante. Mas não há pandemia nem impacto sobre a vida dos brasileiros neste momento, afirma a virologista Clarissa Damaso, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Damaso é um dos 16 integrantes do comitê da Organização Mundial de Saúde (OMS) que recomendou a declaração de uma emergência de saúde internacional.
– É o momento do Brasil ficar em alerta, não em pânico. Não há pandemia. E não é preciso, necessariamente, que exista pandemia para ser declarada uma emergência internacional. Em 2016, o Brasil foi o epicentro da emergência internacional de zika e isso ajudou a coordenar esforços e mobilizar recursos. A zika nunca virou pandemia no nível da Covid-19 ou da influenza H1N1, mas a declaração da emergência foi importante para seu combate – explica Damaso, especialista em poxvirus.
Pandemia é uma situação que envolve a presença da doença em vários países e em mais de um continente. Já a declaração de emergência é uma prerrogativa da OMS como mecanismo de contenção de uma doença que se comporta de forma extraordinária. O ebola em 2019, é outro exemplo, de uma emergência internacional que não virou pandemia, mas afetou de maneira muito grave a República Democrática do Congo.
Ela observa que o objetivo da declaração de emergência foi justamente canalizar recursos para os países africanos afetados por surtos de mpox. Para os demais países, neste momento, a mudança é nos procedimentos e na preparação por parte das autoridades de saúde.
– Os ministérios da Saúde dos países membros da OMS são alertados, adotam procedimentos, se preparam, coisa que o Ministério da Saúde do Brasil já vem fazendo – diz Damaso.
Ela observa que no mundo globalizado os vírus se espalham com facilidade. Mecanismos como a declaração de emergência de saúde internacional são importantes justamente para evitar que surtos locais se tornem pandemias.
Damaso emprega a zika mais uma vez como paralelo para salientar que uma doença não precisa ter alta taxa de letalidade para causar grande preocupação. Nem mpox nem zika são altamente letais, porém, causam grande morbidade. Isto é, muita gente adoece. Além do sofrimento pessoal, há impacto sobre o sistema de saúde.
O coordenador do comitê de mpox da OMS, o nigeriano Dimie Ogoina, da Universidade do Delta do Níger, afirmou em entrevista online que a situação da África é extraordinária.
O epicentro é a República Democrática do Congo (RDC), onde há mais de 15.600 casos e 537 mortes este ano e de onde a doença se espalhou para outros quatro países da África (Burundi, Quênia, Uganda e Ruanda). Lá a mpox é causada por uma variante do tipo 1 do vírus, diferente da que levou a outra declaração de emergência internacional, em 2022.
– É uma unanimidade entre os membros do comitê que o surto de mpox atual é um evento extraordinário – disse Ogoina.
Ele acrescentou que um dos fatores decisivos para a declaração de emergência foi o grande número de casos no Congo este ano, um crescimento explosivo.
Ogoina destacou que ainda não se conhece a verdadeira extensão do surto na África e qual a verdadeira virulência e capacidade de disseminação do vírus que causa o surto do Congo.
– A mpox se originou na África, foi negligenciada e veio se espalhar pelo mundo em 2022. Por isso, agora é a hora de agir decisivamente para evitar que a história se repita.
Fonte: Jornal Extra
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