O hospital está doente. E não só os pacientes devem receber cuidado especial. Médicos, enfermeiros e auxiliares também precisam de um tratamento que os ajude a lidar com a rotina da profissão. Para tentar sanar o problema, o Departamento de Saúde e Sociedade da UFF criou o Programa “Terapia Expressiva como Veículo de Cuidado Integral no Hospital Universitário Antônio Pedro” (Teci-Huap). O objetivo é desenvolver na instituição a prática que usa expressões artísticas com fins terapêuticos.
A terapia expressiva é uma modalidade de cuidado que inclui atividades como pintura, desenho, colagem, teatro, música e literatura. Abalados por enfermidades graves, muitos doentes enfrentam ainda dificuldades como a perda da auto-estima ou a resistência em aceitar sua condição. Por meio da arte, a terapia expressiva busca amenizar esse quadro, proporcionando maior conforto emocional a essas pessoas.
A fim de oferecer os cuidados adequados a cada perfil, o Teci investe inicialmente na preparação da equipe do hospital. A principal ação do projeto é o curso “Cuidar de Si com Arte”, oferecido pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex), que teve início em março e vai até dezembro. Participam 30 profissionais da área de saúde, a maioria do Huap. Os alunos partem do cuidado pessoal para passá-lo adiante aos pacientes e colegas de trabalho. “Percebi que a necessidade de cuidado integral só seria suprida incentivando o cuidador a olhar primeiro para si. Só assim, ele estaria apto a cuidar bem do outro”, explica a médica Denise Vianna, idealizadora, supervisora e ministrante do Programa. O projeto é coordenado pela também médica Anna Alice Schroeder.
Além de aulas teóricas semanais, os participantes do curso estão desenvolvendo atividades práticas no Núcleo de Atenção Oncológica do Huap. Todas as terças e quintas-feiras, das 8h às 10h30, eles se revezam com arteterapeutas voluntários e sete estudantes de Medicina para levar aos doentes a ação “Infusão de Vida”. O grupo atua durante as sessões de quimio e pulsoterapia com pacientes dos 14 leitos do setor. A partir de uma história contada pela equipe que faz a infusão, os doentes refletem sobre um tema proposto e produzem uma expressão artística relacionada. Em seguida, partilham a experiência vivida e comparam como se sentiam antes e como ficaram depois da dinâmica.
Segundo o grupo, a recepção do Programa tem sido positiva. Prova disso é que há pacientes querendo remarcar o dia das sessões somente para fazer as atividades. E, se em um primeiro momento houve resistência dos enfermeiros e auxiliares que trabalham no setor, agora eles também querem participar. “Aos poucos, deixamos de ser invasores e passamos a integrar a equipe deles”, destaca Denise.
As histórias dos doentes, ouvidas nos trabalhos de campo, mobilizam os envolvidos no projeto. Uma das cinco bolsistas, a estudante do 4º período de Medicina Vanessa Stelet, de 22 anos, fala da experiência: “É um crescimento maravilhoso. Mexe com o interior dos pacientes e com o nosso também”. A universitária se emocionou durante a dinâmica “Relicário”, aplicada no dia 14 de junho. Um homem muito debilitado, aparentemente sem condições de interagir, fez gestos e sons mostrando interesse em participar da atividade, que era a montagem de um amuleto. Depois de passar alguns minutos sentada ao lado dele, fazendo carinho, Vanessa não resistiu e se retirou para não chorar na frente do paciente. Ainda na sala da Oncologia, outro doente, um jovem de 18 anos, viu sua reação e a consolou: “Ei, você não pode chorar. A gente já tem tanta tristeza, que quando vem pra cá quer que vocês nos tragam alegria”.
Lições de vida como essa são compartilhadas entre o grupo nas reuniões que ocorrem após cada atividade prática e em um diário de campo. “Os voluntários sentem-se recompensados por receberem como pagamento o sorriso e a melhora da qualidade de vida dos pacientes e da equipe que trabalha no campo receptor”, conta Denise. A arteterapeuta Márcia Rodrigues, de 54 anos, formada em um curso de extensão anterior também ministrado por Denise, confirma o que diz sua mentora: “Sou fascinada pela arteterapia e acho muito bonito ver o florescer dos pacientes. O fato de estar na Oncologia não me afeta. Volto para casa feliz por dedicar aquela horinha aos pacientes e dar a eles uma gota de alegria”.
A ideia é que, nos próximos anos, o Programa se dirija a outros setores do hospital, sempre deixando uma equipe treinada no campo anterior, para seguir com as atividades. Além do curso “Cuidar de Si com Arte” e da “Infusão de Vida”, o Teci desenvolve outras ações, como o “O Huap vai dançar!”, uma roda de danças circulares aberta a todos, realizada pela professora Luciana Ostetto, todas as quintas-feiras, às 17h, no saguão do Antônio Pedro. O projeto também pretende viabilizar a construção de um ateliê terapêutico no hospital, onde pacientes e profissionais possam fazer arte e praticar a criatividade. Há planos ainda para a produção de um documentário e uma exposição no fim do ano, para divulgar os trabalhos realizados.
O Terapia Expressiva foi um dos projetos de saúde premiados em nível nacional no Programa de Extensão Universitária 2011 (Proext-2011), do Ministério da Educação (MEC). O ensino da terapia expressiva a profissionais de saúde dentro de um hospital é uma iniciativa pioneira no Huap.
Fonte : HUAP
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