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Até cinco profissionais da saúde são agredidos por dia no trabalho

Domingo, 16 de setembro de 2012, 7h. A pediatra Sônia Maria Santtana Stender, de 61 anos, é assassinada a tiros após deixar o plantão no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, Zona Norte.

De acordo com colegas de trabalho, ela tinha sido ameaçada de morte pelo
pai de um garoto atropelado e que reclamara de suposta demora no atendimento. Até hoje a família da médica chora a morte.
Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
Sexta-feira passada, 10h. O enfermeiro Alexandre Castellar, 43, deixa o Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into), depois de ter nariz e parte da face reconstituídos.

Uma semana antes, em fúria, o marido de uma paciente
que estava com dengue lhe agrediu brutalmente com socos, depois de ter sido impedido de entrar com a mulher na sala de hidratação da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Taquara, na Zona Oeste.

De acordo com denúncias da categoria, a violência contra profissionais da Saúde nunca alcançou índices tão alarmantes no Rio de Janeiro
.

O medo impera em hospitais, clínicas e UPAs. Segundo estimativas do Sindicato dos Médicos (Sinmed) e do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ), pelo menos dez médicos e 20 enfermeiros foram assassinados nas últimas duas décadas.
'Fui a nocaute com soco, apaguei', contou enfermeiro | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
'Fui a nocaute com soco, apaguei', contou enfermeiro | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
A maioria, depois de ter sofrido ameaças de pacientes ou parentes de doentes. “Além disso, diariamente, entre um a cinco profissionais da Saúde sofrem todo tipo de agressões, desde verbais e físicas a juras de morte”, garante o presidente do Sinmed, Jorge Darze, criticando a falta de segurança nas quase 300 unidades de Saúde do município.

“Só há guarda patrimonial. As secretarias de Saúde do estado e do município são irresponsáveis, pois só dão valor ao patrimônio, e não à vida do trabalhador”, completa Darze.


Pedro de Jesus Silva, presidente do Coren-RJ, revela que já está ficando comum o abandono da profissão por enfermeiros ou técnicos que atuam na área.


“Os enfermeiros estão na ponta final do caos de um sistema falido de saúde. São eles que têm que falar, às vezes, para as mais de 500 pessoas que procuram atendimentos todos os dias em cada uma das 41UPAs da Capital, por exemplo, que não há médicos suficientes para um bom atendimento. Também são obrigados a fazer triagens entre os pacientes. Cada um acha que seu caso, seja uma simples dor de cabeça, é prioridade absoluta. Os conflitos são constantes”, lamenta.
'Assassino disse que seria seu último plantão', disse colega de médica | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
'Assassino disse que seria seu último plantão', disse colega de médica | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
“Assim como reconstituí meu rosto, vou reconstruir minha carreira, que tanto amo. Só vou mudar de local de trabalho, pois não tenho condições psicológicas para voltar a trabalhar na UPA da Taquara”, desabafa Castellar.

O episódio gerou denúncia dos sindicatos ao Ministério Público e mobiliza a Assembleia Legislativa (Alerj), que fará audiência pública para tratar do assunto.


"Fui a nocaute (com o soco), apaguei. Só acordei atendido por colegas" - Alexandre Castellar, enfermeiro, 43 anos


“Trabalho há 3 anos e meio na UPA da Taquara. Infelizmente, as UPAs estão sempre superlotadas porque muitos casos não são emergenciais. Então, todos os dias somos xingados, humilhados e ameaçados. No dia em que fui agredido, não esperava uma ação tão violenta por parte do agressor. Ele se enfureceu porque queria ficar ao lado da mulher dele na sala de hidratação da dengue. Imagina se todo acompanhante resolve permanecer nesse setor também? Pedi que ele aguardasse do lado de fora por três vezes. Na última, ele desferiu um soco tão forte que quebrou meu nariz em várias partes. Fui a nocaute, apaguei. Acordei sendo atendido por colegas. Espero que a dor que estou sofrendo ajude a melhorar as nossas condições de trabalho. É preciso policiamento nas unidades de Saúde”.
"Assassino disse que seria seu último plantão" - X., funcionária do Hospital Estadual Getúlio Vargas

“Assim como familiares, até hoje choramos a morte da pediatra Sônia (Maria Sant’Anna Stender, 61, enterrada no Cemitério São João Batista, conforme foto acima). O que mais nos assusta é saber que ainda não prenderam o assassino. No plantão daquela madrugada (16/9/12), ela tinha sido ameaçada por um homem que exigia atendimento imediato para o filho atropelado, embora houvesse outros casos mais urgentes. Vários colegas de trabalho ouviram o homem dizer que aquele seria ‘seu último plantão’”


"Nós viramos sacos de pancada nas emergências"


Aos 39 anos, com oito de profissão e quatro especializações na sua área, além de cursos de extensão em inglês, libras e cardiologia, a enfermeira Y. já foi parar seus vezes na 22ª DP (Penha), vítima de agressão física.


“Viramos sacos de pancadas nas emergências das unidades de Saúde. Os policiais até brincavam comigo, dizendo: ‘Você aqui de novo?’. A pior das agressões contra mim foi praticada por um homem que se dizia policial militar. Ele me ameaçou de morte e me deu um soco no peito, porque disse a ele que não podia entrar em determinado setor da unidade como acompanhante da mulher”, lembra Y.


Ela, que ganha um salário que beira os R$ 2 mil, conta que, apesar dos riscos, não pretende desistir da profissão.


“Nasci para ajudar a pessoas que precisam. Meu filhos vivem implorando para que eu saia desse ramo. Estão me ensinando até artes marciais como defesa. Sinto que, a qualquer hora, vou precisar mesmo saber me defender, pois não temos a mínima segurança nos locais de trabalho”, diz.


Em nota, as secretarias de Saúde do município e do estado, que se recusaram a fornecer o número real de médicos e enfermeiros nas unidades de Saúde pública do Rio, admitiram que existe apenas segurança patrimonial nas redes.


A esfera estadual, por sua vez, garantiu que vem adotando "uma série de normas para garantir a segurança de profissionais da saúde, pacientes e visitantes".


A secretaria , no entanto, não detalhou que normas são essas, enfatizando apenas "que a segurança patrimonial é feita por vigilantes desarmados, reforçada por câmeras de vídeo 24 horas, localizadas em pontos estratégicos". Ainda conforme a nota, "os vigilantes são orientados a recorrer à autoridade policial para as providências".

Fonte: O Dia 

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