O câncer de mama é o principal tipo de câncer que acomete as mulheres, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Entretanto, o que pouca gente sabe é que esse tipo de tumor também pode se desenvolver em homens. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 1% dos casos da doença ocorrem em homens, o que corresponde a cerca de 750 casos por ano no Brasil.
— Temos que lembrar que o câncer de mama não é exclusivo das mulheres e pode acontecer nos homens — diz o cirurgião oncológico e mastologista Juliano Rodrigue da Cunha, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
No entanto, a falta de informação sobre a doença e os sinais de alerta podem levar a diagnósticos em estágios tardios, quando o tratamento é mais difícil. Dados do DataSUS mostram que, nos últimos cinco anos, o Brasil registrou uma média de 230 mortes anuais por câncer de mama em homens.
— Os homens são mais negligentes com a saúde de forma geral. Quando falamos em rastreamento ou procurar o médico diante de alguma alteração, isso é efeito de forma mais tardia, o que leva a um diagnóstico mais tardio, compromete as taxas de cura e aumenta a necessidade de tratamentos mais complexos e menos eficazes — pontua Cunha.
Atenção aos sinais
Como não há recomendação para rastreio de câncer de mama em homens, nos moldes das diretrizes para mulheres, é importante estar atento aos sinais da doença. Os principais são: surgimento de nódulo na mama, saída de secreção pelo mamilo, alteração do formato da mama, retração do mamilo, alterações no formato e na pele na região.
— Nos homens, como a mama é hipodesenvolvida, é até mais fácil de palpar um caroço e perceber essas alterações. Outro ponto de atenção é a axila. Muitas vezes, o nódulo aparece nessa região — diz o mastologista.
Não está claro o que causa o câncer de mama masculino. No entanto, existem fatores que aumentam o risco para a doença. Eles incluem envelhecimento, histórico familiar, mutações genéticas, além de fatores associados ao estilo de vida, como ingestão de bebida alcoólica e obesidade.
Normalmente, a doença é mais comum em homens acima dos 60 anos – embora possa aparecer em qualquer fase da vida – e pode ser mais frequente em homens cujas famílias apresentam muitos casos de câncer de mama (mesmo que em mulheres) e ovário. Entre as mutações que aumentam o risco da doença, estão a dos genes BRCA1 e 2.
A síndrome de Klinefelter, condição genética que ocorre quando os homens nascem com mais de uma cópia do cromossomo X e afeta o desenvolvimento dos testículos e equilíbrio hormonal, também pode aumentar o risco de câncer de mama masculino.
Assim que algum desses sintomas for percebido, a recomendação é procurar imediatamente um médico. Se a suspeita de câncer de mama for constatada, a recomendação é realizar uma mamografia, seguida de uma biópsia para definição do tratamento, que é semelhante ao das mulheres. As principais ferramentas empregadas são: cirurgia, radioterapia e todo o arsenal de tratamento sistêmico.
— Se tratado de forma adequada, o câncer de mama em homens tem a mesma possibilidade de cura que para mulheres — afirma Cunha.
Sobrevida
Um estudo brasileiro, publicado recentemente na revista científica Clinical Oncology, mostrou que há ganho de sobrevida com radioterapia após a cirurgia nestes pacientes. Os pesquisadores analisaram dados de cerca de mil homens diagnosticados com a doença no estado de São Paulo, entre janeiro de 2000 e julho de 2020, para entender as características e o tipo de doença nessa população específica, além dos fatores que poderiam impactar no desfecho desses pacientes, em especial na sobrevida global.
Os resultados confirmaram que, de fato, o diagnóstico do câncer de mama em homens normalmente é feito numa fase de doença mais avançada e que, normalmente, os tratamentos são semelhantes ao do câncer de mama feminino.
— Em doença não metastática, os pacientes são submetidos à cirurgia, com tratamentos complementares com remédio ou radioterapia ou não — diz o radio-oncologista Gustavo Nader Marta, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e autor do estudo.
Nesse ponto, o estudo trouxe um achado importante. Nos pacientes com estadiamento 2 e 3 – quando a doença ainda está localizada na região da mama e pode ter chegado aos linfonodos —, a realização da radioterapia após a cirurgia diminuiu o risco de morte. Por outro lado, a quimioterapia não impactou a probabilidade de sobrevivência desses pacientes.
— Esse achado é muito robusto e um ponto importante de reflexão para tomada na prática clínica — pontua Marta.
Por outro lado, o radio-oncologista ressalta que o diagnóstico precoce é um aliado fundamental para aumentar a chance do paciente sobreviver, mesmo recebendo o melhor tratamento.
— Quanto mais avançada a doença é diagnosticada, maior o risco de morte. Por isso é fundamental que os homens estejam atentos aos principais sintomas e procurem um médico rapidamente. Perder tempo pode repercutir numa menor chance de sobrevida — conclui Marta.
Fonte: Jornal Extra
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