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Médicos defendem alternativas à bariátrica para tratar obesos

Enquanto o número de cirurgias bariátricas no Brasil se expande, com mais de 100 mil operações realizadas só em 2016, uma corrente de médicos está aperfeiçoando tratamentos que desviam do bisturi e investindo em métodos multidisciplinares personalizados, com consultas com psicólogos, dietas e exercícios.

Um estudo publicado no fim de fevereiro no periódico “BMC Obesity”, liderado pelo médico brasileiro Flavio Cadegiani, apresentou os resultados de um tratamento com 43 pessoas, por mais de dois anos, em que 93% dos pacientes com indicação inicial para a cirurgia de redução de estômago chegaram a um peso saudável por uma combinação de acompanhamento psicológico, atividade física e tratamento com remédios — com monitoramento rotineiro e adaptação personalizada. Os pacientes, com obesidade de moderada a severa e idades entre 18 e 70 anos, passaram pelo tratamento entre 2013 e 2015. Dentre as 32 mulheres e os 11 homens, três não atingiram a redução de peso desejada e tiveram indicação para a cirurgia bariátrica. Do total de pacientes, 88,4% haviam perdido mais de 10% do peso corporal após dois anos, e 74,4%, mais de 20%. Cadegiani e os coautores do estudo apontam, no entanto, a necessidade de outros trabalhos para validar as descobertas.

Na publicação, o médico reconhece que a intervenção cirúrgica, quando corretamente recomendada, leva a melhoras significativas em parâmetros metabólicos, na redução dos riscos cardiovasculares e cancerígenos, entre outros. Mas, o que se observa, na prática, é que as recomendações de diversas sociedades médicas para a cirurgia e para as etapas anteriores e posteriores a ela não são rigorosamente cumpridas. Uma delas, por exemplo, define que, antes de irem para a mesa de cirurgia, os pacientes devem tentar combater a obesidade, por dois anos, com métodos clínicos e multidisciplinares. No entanto, o que se vê na prática é bem diferente:

— No Brasil, esses protocolos acabam sendo seguidos com menos cuidado. A bariátrica é vista como se fosse a única opção, perfeita e sem problemas. Não sou contra a cirurgia, mas contra a sua banalização. Existem complicações após a operação, de ordem psiquiátrica e nutricional, por exemplo — aponta Cadegiani.

O empresário Gustavo Rondina, de 38 anos, não foi um dos pacientes que participou do estudo, mas passou pelo tratamento com Cadegiani. Obeso desde a infância, Rondina passou por uma cirurgia bariátrica aos 22 anos, quando chegou a pesar 188 kg. Após a operação, o ponteiro da balança chegou aos 96 kg, mas alguns anos depois, voltou a subir, marcando 130 kg. Uma nova cirurgia não era uma opção, já que uma segunda operação do tipo não é recomendada. Em 2011, Rondina passou a seguir rigorosamente o protocolo proposto por Cadegiani.

— A indústria da cirurgia bariátrica vende o sonho do momento. Mas ela não é um milagre, vai cobrar o preço. Eu passei por um processo de envelhecimento precoce e de deficiência nutricional. Mudei então alguns hábitos, com muita disciplina — conta Rondina, que se diz satisfeito com o peso atual, de 105 kg.

No Rio, o Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede), através do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (Gota), também oferece um serviço multidisciplinar no tratamento da obesidade, que inclui a participação de psiquiatras, nutricionistas e assistentes sociais, além de encontros mensais em um grupo de apoio. O endocrinologista Pedro Assed, pesquisador no Gota, defende tratamento a longo prazo para a obesidade.

— Há pacientes que chegam no meu consultório para pedir um laudo para a bariátrica com a cirurgia marcada, antes mesmo de tentarem a perda de peso e uma investigação de desordens alimentares e psicológicas. Também chegam pessoas que voltaram a ficar obesas depois da operação. Nos primeiros dois anos após a operação, elas perdem peso que é uma maravilha, mas depois abandonam o tratamento — relata Assed, ressaltando porém a alta taxa de sucesso da bariátrica quando seguida corretamente.

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Na rede privada, os planos de saúde exigem laudos de especialistas para que a cirurgia seja autorizada. De acordo com resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), a cirurgia pode ser feita em pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC, calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado) acima de 40 kg/m², ou acima de 35 kg/m² associado a doenças listadas pelo conselho. Há relatos de que alguns médicos indicam que pacientes sem comorbidades ganhem peso para chegar a um IMC de 40 kg/m² para fazer a cirurgia.

Para o consultor de tecnologia da informação Wesley Torres, de 39 anos, a cirurgia não foi uma opção levada em conta. Aos 35 anos e 165 kg, ele recebeu a indicação médica para a operação, mas sentia medo de ir para a mesa de cirurgia. No consultório de Assed, ele se comprometeu — ao que diz, pela primeira vez — a uma rígida rotina de atividades físicas e controle de alimentação. Hoje, Wesley está feliz com seus 99 kg.

— Eu nunca tinha tentado, de verdade, fazer do jeito mais difícil: com dieta e exercícios. Antes de decidir isso, eu já tinha passado por terapia com uma psicóloga, o que foi fundamental para identificar e trabalhar minha ansiedade e compulsão alimentar. Hoje, eu já não ganho mais peso — comemora.

O médico Caetano Marchesini, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCB), defende a eficácia da cirurgia quando feita com responsabilidade. Marchesini aponta que a sociedade também preconiza o tratamento clínico anterior à operação, mas diz que a alternativa pode ser pouco eficaz em alguns casos:

— Há estudos que mostram um percentual pequeno na perda de peso em tratamentos clínicos para a obesidade mórbida. Mas em geral, o tratamento clínico é sempre melhor. No entanto, os pacientes que chegam até nós já tentaram alternativas. A cirurgia bariátrica é um tratamento compartilhado, com um médico que fará a operação da melhor forma possível e um paciente que deve fazer a parte dele — defende Marchesini.

Segundo dados da SBCB, 2016 teve número recorde de cirurgias bariátricas no Brasil: foram 100.512. O número foi 7,5% maior do que em 2015, quando foram feitas 93,5 mil operações, e 39% maior em relação a 2012, que somou 72 mil cirurgias. O país já é o segundo no número de cirurgias, onde as mulheres representam 76% dos pacientes.


Fonte: Jornal Extra

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