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'Vivemos uma epidemia de dores nas costas', diz neurocirurgião


Francisco Sampaio Júnior, neurocirurgião especializado em coluna vertebral
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% das pessoas no mundo têm, tiveram ou terão dores nas costas. O mais impressionante é que hoje metade dos homens e mulheres que procura um especialista para tentar aliviar o problema tem menos de 50 anos. Ou seja, jovens demais para ter uma coluna com dores.

— Vivemos uma epidemia de problemas na coluna. A minha geração brincava na rua jogando futebol, pulando amarelinha, pega-pega, esconde-esconde, subindo em árvores. As crianças hoje brincam ligadas a milhões de outras crianças espalhadas pelo mundo por um smartphone, sentada em um sofá ou cadeira de jogo, na pior posição possível — afirma o neurocirurgião Francisco Sampaio Júnior, especialista em coluna vertebral do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Em entrevista ao GLOBO, o médico aponta as causas para essa epidemia e diz que ela pode ser freada se melhorarmos a postura ao usarmos o celular e o laptop.

Quais sãos os problemas nas costas mais comuns atualmente?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% da população do mundo tem, teve ou terá dores nas costas. A maior parte dessas dores é causada por hérnias de disco, mas pode ser provocada por degeneração, envelhecimento precoce ou perda de maleabilidade no disco, pode ser motivado pelos chamados “osteófitos”, ou seja, os bicos de papagaio, ossos crescidos na coluna.

Como o estilo de vida impacta no surgimento dos problemas?

Muito e cada vez mais. O corpo humano não foi feito para ficar dez horas sentado em uma cadeira. Precisamos nos movimentar. A seleção natural foi feita para que nós pudéssemos correr atrás dos nossos alimentos, trabalhar para colher ou plantar nossos alimentos e hoje a maioria das pessoas não faz isso. Tanto que as doenças da coluna são uma condição que afeta o trabalhador burocrático administrativo, raramente o trabalhador braçal. Um experimento com cadáveres, feito em 1976, mostrou que deitado, a pressão dentro dos discos, que são como se fossem amortecedores existentes entre cada vértebra, é de 25. De pé é 100 e sentado é 250. Ou seja, quanto mais tempo você passa sentado durante o dia, mais chance você tem de ter doença na coluna. Se você sentar de maneira correta é um pouco melhor, porque há uma distribuição uniforme das cargas em cada um de seus discos. Hoje descreve-se também uma doença chamada de “pescoço de smartphone”, que é quando você projeta sua cabeça adiante em 25 graus para mexer no aparelho. Fazendo isso, você dobra a carga nos seus discos intervertebrais cervicais, de tal maneira que aquele disco que está recebendo duas vezes mais carga do que deveria, ao invés de desgastar na sexta década de vida, como era há duas gerações, vai desgastar na terceira ou quarta. Claro que orientar alguém a desconectar do celular é impossível. O ideal é unir o útil ao agradável. Utilizar o celular, mas na postura correta. Digitar e gravar mensagens com o aparelho na altura dos olhos, de maneira a não precise projetar pescoço adiante.

Se não corrigirmos nossa postura, podemos nas próximas gerações ficarmos mais corcundas?

Isso não foi ainda descrito oficialmente, mas tenho a forte impressão que sim. Se nós não mudarmos e não passarmos a informação correta para nossos descendentes isso poderá ocorrer no futuro.

Existe uma máxima de que “dor nas costas é doença de idoso”. Ela não é mais real?

Cerca de 50% dos pacientes que procuram médicos com dores nas costas tem hoje entre 20 e 50 anos. A minha geração brincava na rua jogando futebol, pulando amarelinha, elástico, pega-pega, esconde-esconde, subindo em árvores. As crianças hoje brincam ligadas a milhões de outras crianças espalhadas pelo mundo por um smartphone, sentada em um sofá, cadeira de jogo na pior posição possível, ou com óculos de realidade virtual relaxados na cama. Atendo um paciente, por exemplo, operado aos 18 anos de uma hérnia cervical comprimindo a medula já com tetraparesia, que é a perda de força do pescoço pra baixo.

Entre os tratamentos, quais são os mais indicados?

O principal deles, já no início do tratamento é a fisioterapia, correção de postura com RPG (Reeducação Postural Global), para tentar redistribuir uniformemente o peso em cada um dos seguimentos da coluna e tirar a sobrecarga de peso daquele que está recebendo mais carga. Fazer exercícios de consciência corporal e exercícios isométricos, funcionais e fortalecimento do core, que são os músculos que formam o cinturão de proteção em volta da nossa coluna. Quando eles são bem fortalecidos, você tem uma absorção em média de 60 a 80% da carga que iria incidir nos discos e articulações da coluna, ou seja, suas articulações e discos vão estar mais saudáveis e ter mais durabilidade. Tudo isso associado, resultará em mais saúde a sua coluna e consequentemente terá menos dor e mais condição de ter uma vida com qualidade.

Como sentar direito em sofás mais maleáveis?

Eu diria que permanecer sentado por longos períodos em sofás não é uma boa ideia. Você nunca irá conseguir ter uma postura adequada em uma estrutura dessas. Nem sempre o conforto quer dizer boa postura. A posição correta de sentar é a lombar e a dorsal totalmente apoiadas no encosto. O joelho em uma posição de 90° e o pé totalmente apoiado no chão. No sofá você não consegue fazer isso.

Qual é a sua opinião sobre as cadeiras especificas de jogos, com encostos altos, bastante usada entre os jovens?

São boas, ajudam a manter uma boa postura, mas a pessoa tem que saber utilizá-la. O que mais vejo são os jovens usando esse tipo de cadeira com os corpos inclinados quando jogam videogame.

Pelé, que foi seu paciente, conviveu por anos com fortes dores na coluna. Como isso pode acontecer com uma pessoa ativa, dedicada ao esporte?

O Pelé foi meu paciente quando ele tinha 75 anos de idade e me impressionei muito com os exames dele. A ressonância mostrou que os discos eram brancos, ou seja, que eles estavam hidratados. Normalmente, pacientes nessa idade chegam ao consultório com os discos já sobrecarregados, degenerados (de coloração preta na ressonância magnética). O dele parecia o de uma pessoa jovem. Eu nunca tinha visto uma pessoa aos 75 anos daquela forma. O problema dele se deveu a um trauma quando ele jogava no Cosmos há muito tempo que resultou em uma fratura na coluna e acelerou a degeneração num seguimento específico.

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