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Pesquisa com 18 mil crianças liga infecção por Covid-19 na gestação a risco maior de atraso cognitivo

 

       Resultados apontam que efeitos foram mais evidentes em infecções no terceiro trimestre e entre meninos. — Foto: Freepik

Crianças expostas ao vírus da Covid-19 ainda no útero parecem ter maior risco de apresentar atrasos no desenvolvimento neurológico aos três anos de idade.

É o que mostra um estudo conduzido pelo Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, e publicado na revista Obstetrics & Gynecology — o maior até agora sobre o tema.

A pesquisa analisou 18 mil nascimentos entre 2020 e 2021 e encontrou uma associação estatística de 29% mais diagnósticos de atraso de fala, coordenação e autismo entre os filhos de mães que tiveram infecção por SARS-CoV-2 durante a gestação.

Mas os próprios autores alertam: os dados não provam relação de causa e efeito.

“É sempre possível que fatores não mensurados — como estresse materno, nível socioeconômico ou acesso à saúde — exerçam influência sobre o resultado.”

O que o estudo mostrou

Os cientistas revisaram os prontuários de 18.124 partos registrados no sistema de saúde Mass General Brigham, em Boston.

Entre as gestantes, 4,8% (861 mulheres) tiveram teste positivo para Covid-19 em algum momento da gravidez.

Aos três anos, 16,3% das crianças expostas apresentaram algum diagnóstico de atraso no desenvolvimento — ante 9,7% entre as não expostas.
Após ajustes estatísticos, o risco foi 29% maior no grupo afetado.

Os diagnósticos mais comuns incluem:

  • Transtornos de fala e linguagem (CID-10 F80);
  • Transtornos motores do desenvolvimento (F82);
  • Transtorno do espectro autista (F84.0).
Os resultados apontam que efeitos foram mais evidentes em infecções no terceiro trimestre e entre meninos, grupo que apresentou 43% mais diagnósticos.

Como a análise foi feita

A equipe desenvolveu um modelo chamado regressão logística multivariada — uma ferramenta estatística usada para entender quais fatores realmente influenciam um resultado e quais apenas parecem ter relação.

Nesse tipo de análise, os pesquisadores colocam várias variáveis no mesmo cálculo, como idade da mãe, raça e etnia, tipo de hospital, tipo de seguro (usado como indicador socioeconômico), sexo do bebê, parto prematuro e status vacinal.

Assim, é possível isolar o efeito de cada um desses fatores e avaliar se a infecção por Covid-19, por si só, está ligada ao risco de atraso no desenvolvimento infantil.

Mesmo com esses ajustes, os autores reconhecem que pode haver viés de detecção — mães que tiveram Covid-19 podem procurar mais avaliações médicas para os filhos, o que aumentaria a chance de diagnóstico.

“Por isso, incluímos o tipo de hospital no modelo: hospitais acadêmicos tendem a receber gestantes de maior risco ou a realizar avaliações mais detalhadas”, explica a pesquisadora.

O estudo não analisou marcadores biológicos, como citocinas inflamatórias ou alterações na placenta, que poderiam esclarecer os mecanismos da associação.


Resultados sólidos e relevantes

Para o neurologista Alan Eckeli, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), os resultados são sólidos e relevantes, mas precisam ser lidos com cautela.

“É um estudo bem feito, com metodologia adequada e análise estatística robusta”, afirma. “Mas, por ser observacional, o que ele mostra é uma associação, não uma relação de causa e efeito.”

Eckeli destaca que a causalidade depende de múltiplos critérios científicos — como comprovação biológica, consistência entre diferentes populações e estudos longitudinais.
Próximos passos da pesquisa

A equipe americana pretende continuar acompanhando as crianças conforme envelhecem, para avaliar se os atrasos persistem, melhoram ou desaparecem com o tempo.

Shook ressalta que novos estudos — incluindo pesquisas com neuroimagem e análises experimentais de placenta e inflamação materna — são necessários para entender os possíveis mecanismos.

A pesquisadora também observa que o grupo analisado é majoritariamente não vacinado, e portanto não é possível avaliar o papel protetor da vacinação.

“Apenas 13 mulheres tiveram infecção após parcial ou total imunização”, detalha.


Fonte: G1

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