A versão terapêutica do imunizante estimula o sistema imunológico a combater células cancerígenas no órgão
A vacina BCG (Bacilo de Calmette e Guérin) é uma velha conhecida dos brasileiros. Faz parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI), indicada para todos a partir do nascimento até antes de completar 5 anos de idade e aplicada em apenas uma dose. A imunização em massa consegue evitar o desenvolvimento para formas graves de tuberculose. Mas o que poucas pessoas sabem é que ela também é usada para o tratamento contra o câncer de bexiga.
Em casos oncológicos, é utilizado a versão terapêutica da vacina, conhecida como Imuno BCG, para estimular o sistema imunológico a combater células cancerígenas em pacientes com câncer de bexiga não invasivo, ou seja, superficial, que não está nas camadas mais internas do órgão.
— A vantagem é que a vacina é amplamente conhecida, sabemos de seu benefício. Nós a injetamos diretamente na bexiga do paciente e após cerca de uma hora ele elimina essa substância pela urina. Nós a utilizamos também para evitar que o paciente tenha uma recidiva — explica o uro-oncologista e especialista em cirurgia robótica André Berger.
O médico afirma que a aplicação no tratamento do câncer de bexiga foi descoberta quando pesquisadores perceberam que a vacina, ao ser introduzida diretamente na bexiga, não apenas protegia contra infecções, mas também estimulava o sistema imunológico a atacar células cancerosas. Esse efeito ocorre porque a vacina provoca uma inflamação controlada no revestimento da bexiga, ativando as células de defesa.
Os profissionais no Brasil usam o protocolo proposto pela SWOG (Sout West Oncologist Group), uma sociedade médica americana de oncologistas que organizaram um estudo há alguns anos de como o tratamento deve ser realizado. Segundo eles, é necessária uma dose alta por semana da injeção, durante seis semanas seguidas, e depois o paciente deve receber metade da primeira dose a cada seis meses como forma de manutenção. O tratamento total dura em média de um a dois anos.
Segundo o uro-oncologista, a cada ano são diagnosticados cerca de 12 a 15 mil pacientes com câncer de bexiga, que é considerado o tumor mais letal entre os médicos. Entretanto, 70% deles são declarados como superficiais e que podem ser tratados com a BCG. A maioria desses pacientes não apresentam recidiva da doença após cinco anos.
Efeitos colaterais e contraindicações
Uma outra vantagem apresentada com a terapia da Imuno BCG é que, como ela é injetada diretamente na bexiga, não há riscos de queda de cabelo, porém ela pode apresentar alguns efeitos colaterais leves, como irritação na bexiga, febre e cansaço.
Em casos raros, podem ocorrer complicações mais sérias, como sangue na urina, contração da bexiga e infecções sistêmicas.
— Ela não é recomendada para pacientes imunodeprimidos, ou que estejam em tratamento para outras doenças que afetam o sistema imunológico — afirma Berger.
Novos avanços
Algo que preocupa os médicos com frequência em relação a vacina da BCG é que o suprimento com certa frequência entra em falta não só no Brasil, mas no mundo como um todo. Além disso, há as 30% de pessoas que são resistentes à BCG, ou seja, em quem a terapia não funciona. E, nesses casos, é necessário entrar com quimioterápicos mesmo nas formas mais superficiais da doença.
— No particular já há alguns avanços, por exemplo, uma imunoterapia chamada pembrolizumabe que pode ser dada aos pacientes que tem resistência a BCG. Diferentemente da BCG, ela é injetada na veia do paciente, o que aumenta o tempo de contato da substância no corpo, e não tem os efeitos colaterais da quimioterapia — afirma Bruno Benigno, urologista e oncologista do hospital Oswaldo Cruz.
O urologista também cita um estudo em andamento de um dispositivo chamado TAR-200. Segundo o médico, ele é “do tamanho de um pretzel e de uma moeda de 50 centavos”.
— Ele é colocado dentro da bexiga do paciente e vai liberando quimioterapia aos poucos de forma controlada. Ele tem que ser trocado a cada 20 dias. Existem estudos e inovações que estão chegando ao mercado para tratar dessa doença que a cada ano atinge mais pessoas — explica Benigno.
Essas novas abordagens mostram resultados promissores, aumentando as taxas de remissão e preservando a bexiga em mais casos.
Esses avanços não se limitam ao câncer de bexiga. Pesquisas também estão explorando o potencial da BCG no tratamento de outros tipos de câncer, como melanoma e câncer de pulmão. A ideia é usar a mesma lógica: estimular o sistema imunológico a atacar as células cancerosas. Com mais estudos em andamento, a BCG pode abrir novas perspectivas no campo da oncologia, oferecendo alternativas menos invasivas e eficazes para vários tipos de câncer.
Fonte: Extra
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