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HPV: é necessário se vacinar após identificação do vírus? Quem teve o diagnóstico consequentemente terá câncer? Tire suas dúvidas

 



Em cada ano, 17 mil novos casos de câncer de colo de útero são identificados no Brasil. A cada 12 meses o país também atinge a marca de 7 mil mortes em decorrência do diagnóstico. Trata-se de uma doença, na maioria das vezes, evitável. Isso porque uma grande parte dos casos (70% deles aponta o Ministério da Saúde) ocorre no desdobramento de uma infecção de dois tipos (os chamados 16 e 18) do Papilomavírus Humano (HPV), cuja apresentação pode ocorrer em mais de 200 variações. Essa não a única relação entre uma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) mais prevalentes com quadros oncológicos. O ministério ainda informa que há indicativos de que o vírus está também relacionado a desdobramentos oncológicos de orofaringe, pênis, vulva, ânus e vagina.

Em 2024, o Brasil passou a adotar a vacina de dose única que pode ser oferecida a todos os grupos prioritários para a vacinação, o que ampliaria o acesso e agilizaria a imunização. EXTRA elencou cinco dúvidas sobre o funcionamento da imunização e como o uso do imunizante pode ser uma boa arma para proteger-se de quadros oncológicos.

1. Após ser identificado com HPV, ainda vale a pena tomar a vacina?

Sim e a razão para isso está relacionada às variações do vírus.

— Há inúmeros subtipos do vírus HPV sendo os subtipos 6,11,16 e 18 os principais causadores de câncer e HPV-relacionados. Uma pessoa infectada por um subtipo ainda pode se proteger contra os outros através da vacina — explica Graziela Ferreira Gomides Batista, oncologista da Oncoclínicas São Paulo — Além disso, a resposta natural de anticorpos após um contato pode não proteger contra outras infecções pelo HPV.

2. Quem pode tomar a vacina gratuitamente? E para quem é indicada na rede privada?

De acordo com informações do Ministério da Saúde, podem tomar a vacina (quadrivalente, contra os vírus mais prevalentes) meninas e meninos de 9 a 14 anos, com dose única. Além disso, pessoas que vivem com HIV (independente de gênero), transplantados de órgãos sólidos e medula óssea. Também há previsão para que se aplique a vacina em vítimas de abuso sexual, de 15 a 45 anos (homens e mulheres) que não tenham tomado o imunizante. Outro grupo que poderá tomar as doses são os usuários de profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de HIV, de 15 a 45 anos. Na rede privada, explica Graziela, as vacinas (aqui em versão nonovalente) estão disponíveis para homens e mulheres de 9 a 45 anos.

3. Ao ser identificado com HPV quer dizer objetivamente que terei câncer?

Não necessariamente, conta Alberto Chebabo, infectologista dos laboratórios Sérgio Franco. O especialista explica que o HPV é um vírus oncogênico, ou seja, ele tem a capacidade de evoluir e de fazer lesões que podem ser posteriormente diagnosticadas como câncer de colo de útero, de pênis, de canal anal e de garganta, mas isso, diz Chebabo, dependerá do sorotipo.

— Nem todos os sorotipos do HPV são oncogênicos, o que significa que nem todas as pessoas que têm contato com o HPV irão desenvolver essas lesões. Hoje sabemos que ele é o vetor exclusivo do câncer de colo de útero, mas isso não significa que todas as mulheres que foram detectadas com HPV terão esse câncer — afirma.

O médico afirma que, porém, parte dessas lesões podem ser “pré-malignas” o que significa que são tratáveis antes de se tornarem malignas.

— Ou a HPV pode simplesmente desaparecer e não evoluir com nenhum tipo de lesão. No primeiro caso, os pacientes devem ser acompanhados porque essas lesões podem se tornar lesões cancerígenas, mas quando elas são detectadas de forma precoce e recebem o tratamento adequado, elas não evoluem para o câncer — diz.

O infectologista afirma que é um percentual “muito pequeno” o de pessoas contaminadas previamente com HPV que evoluem, de fato, para câncer. A alta prevalência do vírus, no entanto, faz com que o volume de diagnósticos de lesões malignas aumente exponencialmente.

4.Homens deveriam tomar a vacina? O vírus tem quais efeitos neles?

Sim, deveriam. Por tratar-se de uma doença que transmite por meio de relações sexuais e que tem desdobramento entre ambos os sexos, é importante promover a prevenção para todos os gêneros.

— É importante lembrar que o HPV está relacionado a 100% dos casos de câncer de útero, mas também tem uma participação importante no desenvolvimento de outros tipos, como o câncer peniano nos homens e o de canal anal e de oro-faringe também, que acomete tanto homens quanto mulheres. Então a vacinação está indicada para ambos os sexos para reduzir não só a transmissão de uma pessoa para outra, mas também para diminuir os riscos causados pela infecção do HPV — afirma Chebabo.

5. É preciso incluir exames de HPV na rotina? Como eles são realizados? Vale para homens e mulheres?

Graziela Batista, da Oncoclínicas, diz que o rastreio é fundamental para detecção precoce de lesões. Para as mulheres, o rastreio com exame de papanicolau (colpocitologia oncótica) a partir dos 25 anos. O rastreio deve se prolongar até os 65 anos.

— Nos homens, não há um teste de triagem de HPV habitualmente utilizado, porém o exame clínico urológico pode detectar lesões pequenas suspeitas. Neles é possível realizar a pesquisa de HPV através de coleta de secreção da região da glande com captura híbrida e PCR para detecção de alguns dos principais subtipos do vírus — afirma a especialista. — O teste molecular de pesquisa do DNA HPV pode ser realizado em homens e mulheres. Ele é uma ferramenta que vem sendo cada vez mais utilizada, o que permite a detecção cada vez mais precoce das lesões.

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