Pesquisadores alcançaram um avanço significativo na medicina ocular ao restaurar a visão de um macaco-japonês (Macaca fuscata) usando um combinado (patch) derivado de células-tronco humanas. O estudo, publicado em 3 de outubro na Stem Cell Reports, descreve como o transplante ajudou a reparar um "buraco macular" — condição rara que afeta o centro da retina, responsável pela visão central e foco nítido. O feito representa um passo importante na busca por tratamentos eficazes para a perda de visão causada por danos à retina.
No caso do macaco, um furo na retina havia prejudicado sua capacidade de realizar tarefas visuais. A equipe liderada pela pesquisadora Michiko Mandai, do Kobe Eye Hospital no Japão, utilizou células-tronco humanas para desenvolver uma folha de células retinais e transplantá-la para o olho do animal, funcionando como um tipo de remendo que fecha o buraco, similar a costurar um rasgo em uma roupa. O sucesso da cirurgia foi comprovado pela melhora nas respostas visuais do macaco após o procedimento.
Apesar disso, a recuperação não foi totalmente livre de complicações. Após quatro meses, houve sinais de rejeição no procedimento, provavelmente por se tratar de um transplante entre espécies diferentes. A equipe, no entanto, conseguiu contornar o problema com injeções de esteroides, que suprimiram a resposta imunológica.
"A transplantação de tecido humano em um humano teria menor risco de resposta imune", afirmou Mandai.
O buraco macular pode ser tratado cirurgicamente em cerca de 90% dos casos em humanos, mas a pequena parcela restante costuma enfrentar dificuldades, com visão borrada ou pontos cegos. Embora o estudo ainda não tenha comprovado se as células transplantadas conseguiram se conectar às originais, Mandai destacou que o fechamento do buraco em si já melhora a visão, independentemente da integração das células enxertadas.
Seis meses após a cirurgia, os pesquisadores removeram o olho do macaco para estudo e encontraram novas células visuais — cones, essenciais para a visão de cores, e bastonetes, responsáveis pela visão noturna — formadas no local do transplante. No entanto, a dúvida sobre a conexão funcional entre as células transplantadas e as do macaco persiste, ou seja, mais estudos são necessários.
No ano passado, Mandai e sua equipe já tinham conduzido um estudo com humanos que sofrem com retinite pigmentosa — doença genética que provoca a perda progressiva da visão. Nesses pacientes, segundo a Live Science, os enxertos foram integrados às retinas e conseguiram retardar o processo. Agora, a pesquisa deve ser expandida a fim de testar e compreender a funcionalidade dos transplantes em outros animais.
Fonte: O Globo
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