Pular para o conteúdo principal

Exame de sangue que vê síndrome de Down em feto chega ao Brasil

Um exame de sangue destinado a mulheres grávidas para detectar anomalias nos cromossomos dos fetos começa a ser oferecido no Brasil. O teste, que será analisado nos EUA, pode ser feito a partir da nona semana de gestação e serve para identificar síndromes como Down, Klinefelter, Turner, Edwards, Patau e triplo X.

O resultado sai após uma comparação das cópias dos cromossomos do filho, da mãe e, se necessário, do pai. Cerca de 5% do DNA do feto circulante no sangue da mulher já é suficiente para observar possíveis alterações. A novidade foi noticiada nesta quarta-feira (23) pelo jornal "Folha de S.Paulo".

Segundo o obstetra Eduardo Cordioli, coordenador da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, há 30 anos os casais já podem saber se seus filhos têm algum problema genético, por meio de um exame de ultrassom ou da coleta de líquido amniótico com uma agulha na barriga da mãe. O problema é que esse último procedimento é feito apenas a partir do quarto mês de gestação, é mais invasivo e tem 0,5% de chance de aborto – o que não acontece no novo teste.

"É como se fosse um hemograma simples e não existe nenhum risco. Quanto mais cedo os pais tiverem uma notícia dessas, mais tempo têm para se preparar, mudar de planos, informar-se, conhecer associações e crianças na mesma situação. É melhor saber antes do que ter uma surpresa", destaca o médico.

De acordo com ele, todo diagnóstico precoce facilita um eventual tratamento. Por isso, quanto mais cedo o obstetra souber que o bebê tem síndrome de Down ou outra anomalia cromossômica, pode acompanhar o desenvolvimento dessas alterações, planejar o parto e avisar o pediatra que cuidará da criança.

O Albert Einstein ainda está analisando laboratórios americanos para escolher aquele que fará os exames, que devem começar a ser oferecidos em breve, ainda no primeiro semestre. O laboratório Fleury, que tem unidades em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, também deve ter os testes nos próximos meses.
Ainda não se sabe quanto o exame vai custar nesses locais, mas o Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO) fechou uma parceria com o laboratório americano Natera e vai colocar o serviço à disposição por R$ 3.500. Para ter mais precisão, além do sangue da mãe, o teste pode ser feito com uma amostra adicional da mucosa interna da bochecha do pai.

Segundo o obstetra e diretor do IPGO, Arnaldo Cambiaghi, o resultado sai em 15 dias e há apenas quatro casos em que a mulher não pode fazer o exame: quando for gravidez de gêmeos ou mais, quando a mãe tiver usado óvulo de uma doadora, já tiver feito transplante de medula óssea ou for obesa (acima de 120 kg). Nos três primeiros casos, isso ocorre porque há um número maior de DNAs no sangue, o que dificulta a análise. Já em pacientes obesas, a quantidade de DNA livre no sangue diminui, o que também prejudica o diagnóstico.

Entre os fatores de risco que favorecem uma alteração cromossômica na gestação, estão a idade avançada da mãe, principalmente após os 35 anos, e histórico familiar de problemas genéticos.

Exame não estimula aborto
 
Cambiaghi diz que o novo método não pretende incentivar o aborto, mas deixar os casais mais tranquilos ou preparados emocionalmente em caso de resultado positivo. Se o feto tiver algum problema cromossômico, os pais também já podem começar a procurar serviços especializados, destaca o médico.

"Nas síndromes de Patau e Edwards, que são mais graves e comuns – o bebê nasce vivo, ao contrário de outras doenças, em que morre naturalmente –, é possível pedir autorização judicial para o aborto. Mas a decisão fica a critério do juiz", explica.

No Brasil, o aborto é proibido exceto em casos de anencefalia (feto sem cérebro), estupro e risco de vida para a mãe.

Segundo Cordioli, as síndromes de Patau e Edwards são incompatíveis com a vida, o que não acontece no Down. O obstetra do Albert Einstein também diz que o risco de ter um segundo filho com alterações genéticas vai depender da idade e das características da mãe, do tipo de problema genético e de outros fatores. E não se devem fazer exames cromossômicos antes da gravidez, por ser "desnecessário", na opinião do médico.

"O mais importante é a mãe ter uma vida saudável, com bons hábitos", ressalta.


Entenda o que é cada uma dessas alterações cromossômicas
Síndrome Por que ocorre e o que causa?
Down É provocada por uma cópia extra do cromossomo 21. Pode provocar deficiência intelectual, defeitos cardíacos ou em outros órgãos, perda de audição ou visão.
Klinefelter Ocorre por uma cópia extra do cromossomo X e afeta apenas os meninos. Pode dar atraso na fala e outras dificuldades de aprendizagem, infertilidade e altura maior que o normal.
Turner Acontece por uma falta na cópia do cromossomo X (é chamada também de Monossomia X) e atinge apenas as meninas. Elas são mais baixas, podem ter defeitos cardíacos ou renais, problemas de audição, dificuldades de aprendizagem e infertilidade.
Edwards É causada por uma cópia extra do cromossomo 18. Leva a uma deficiência intelectual severa, problemas no crescimento, defeitos graves no cérebro, coração e outros órgãos. Muitos bebês morrem antes do nascimento ou até 1 ano de vida.
Patau Ocorre por uma cópia extra do cromossomo 13. Provoca deficiência intelectual severa, defeitos  graves do cérebro e outros órgãos. Muitos bebês morrem antes do nascimento ou até 1 ano de vida.
Triplo X Acontece por uma cópia extra do cromossomo X e afeta apenas as meninas. Elas podem ter dificuldades de aprendizagem e ser mais altas que a média. Algumas têm problemas emocionais que podem exigir tratamento. A maioria, porém, não apresenta sintomas ou só tem sinais leves.


RISCO DE ANOMALIAS GENÉTICAS NA GRAVIDEZ
Idade da mãe Risco de síndrome de Down Risco total de anomalias cromossômicas
20 1/1.667 1/526
25 1/1.250 1/476
30 1/952 1/385
35 1/378 1/192
40 1/106 1/66
49 1/11 1/8
Fonte: Practice and Principles, Creasy and Resnick, eds. W.B. Saunders, Philadelphia 1994:71

Fonte : G1

Comentários

Populares

Campanha Hanseníase 2018

Fonte: Portal da Saúde

UFF responde: Alzheimer

  Doença de causa desconhecida e incurável, o Alzheimer é a forma mais comum de demência e afeta, principalmente, idosos com mais de 65 anos. Identificada inicialmente pela perda de memória, pessoas acometidas pela doença têm, a partir do diagnóstico, uma sobrevida média que oscila entre 8 e 10 anos, segundo o  Ministério da Saúde  .  Em um  Relatório sobre Demência , a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que mais de 55 milhões de pessoas no mundo possuem algum tipo dessa doença, sendo mais de 60% dessas pessoas habitantes de países de baixa e média renda. A previsão é de que esse número ultrapasse mais de 130 milhões no ano de 2050. Outros dados apresentados na publicação indicam que a demência é a sétima maior causa de morte no mundo e que, em 2019, representou um custo global superior a 1 trilhão de dólares. Com o intuito de criar ações para o tratamento e a conscientização sobre a Doença de Alzheimer e de demências, em junho de 2024, foi instituída a...

Faculdade de Medicina da UFF celebra 100 anos com nova sede e programação especial

  A UFF celebrou, ontem (1), o centenário da Faculdade de Medicina. O evento, realizado no teatro da universidade, contou com a presença de autoridades acadêmicas e civis, docentes, servidores, estudantes e ex-alunos, reunindo gerações que marcaram a história da unidade. A programação contou com a conferência “ A Medicina nos últimos 100 anos ”, ministrada pela professora Eliete Bouskela, presidente da Academia Nacional de Medicina, além de homenagens a personalidades e ex-professores que contribuíram para a trajetória da unidade e da apresentação do Quarteto de Cordas. Na ocasião, foram entregues medalhas e troféus comemorativos, simbolizando o reconhecimento ao legado de excelência, ética e compromisso social da Faculdade de Medicina ao longo de um século. Quarteto de Cordas durante a solenidade do centenário da Faculdade de Medicina da UFF. Foto: Joaquim Guedes/SCS Com uma trajetória marcada pela excelência na formação de profissionais e pelo compromisso com a saúde pública, a u...

Vacina experimental pode trazer alívio para alergia a amendoim

Um estudo publicado no "Journal of Allergy and Clinical Immunology" nesta quarta-feira (11) demonstra como vacinas podem ser utilizadas com sucesso no tratamento de alergias. Uma boa parte das alergias ocorre quando o sistema imunológico percebe alguns alimentos como "invasores" a serem atacados. Como se o amendoim virasse um vírus, por exemplo. A partir dessa premissa, assim, cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, desenvolveram uma vacina capaz de fazer com que o sistema imune não reaja a substâncias presentes no amendoim como se elas fossem atacar o organismo. Em testes em camundongos, três doses mensais de uma vacina aplicada pelo nariz protegeram ratos de reações alérgicas. Ao todo, a vacina foi desenvolvida após quase duas décadas de estudo. Os ratos responderam às alergias a amendoim de forma similar aos humanos afetados, com sintomas que incluíam coceira na pele e dificuldade para respirar. O estudo avaliou a proteç...

Huap-UFF é o primeiro hospital de Niterói (RJ) a realizar criobiópsia de nódulo pulmonar por meio de ecobroncoscopia

  O Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), realizou pela primeira vez um procedimento de criobiópsia de nódulo pulmonar guiado por ultrassonografia endobrônquica radial. O uso da técnica, que é um avanço no diagnóstico precoce do câncer de pulmão, torna o Huap a única instituição a oferecer esse tipo de exame pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na região metropolitana II do Rio de Janeiro. O procedimento, realizado no último dia 22 de agosto, é um marco na modernização do parque tecnológico do Serviço de Endoscopia Digestiva e Respiratória do Huap-UFF e  faz parte das ações do projeto “Integra – uma proposta de integração academia/serviço”,  aprovado pelo edital Nº 15/2023, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, que garantiu o valor de R$4.438.000 (quatro milhões, quatrocentos e trinta e oito mil reais) para 24 m...