Fruto de uma ação integrada entre a Fiocruz e o Ministério da Saúde, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) é composta por 221 BLHs e 199 postos de coleta. Nas últimas décadas, a experiência brasileira também se tornou um modelo de referência mundial, servindo como base para a criação da Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH). Até o momento, o esforço de cooperação técnica já resultou em projetos de implantação de BLHs e colaboração com nações da América Latina, Caribe, Península Ibérica e África, agora mobilizadas para a comemoração do Dia Mundial de Doação de Leite Humano, a ser celebrado no próximo dia 19 de maio. A iniciativa simboliza a união de esforços para a salvaguarda da vida de milhões de crianças em todo o mundo. O objetivo é conscientizar a sociedade para o ato da doação de leite humano. No Rio de Janeiro, assim como em todos os estados do país, a mobilização se estenderá por toda a semana.
“O Banco de Leite Humano surgiu como uma estratégia de qualificação da assistência neonatal em termos de segurança alimentar e nutricional, com foco em ações que ajudam a reduzir a morbimortalidade infantil em instituições hospitalares. O trabalho é voltado para um segmento muito específico: crianças que demandam cuidados especiais em unidades de terapia semi-intensiva e intensiva, ou seja, bebês que nasceram prematuros, com baixo peso, crianças que pelas mais variadas razões precisam de uma atenção especializada”, destaca o coordenador da rBLH, João Aprígio Guerra de Almeida.
O leite doado aos BLHs e postos de coleta passa por um rigoroso processo de seleção, classificação e pasteurização até que esteja pronto para ser distribuído com qualidade certificada a bebês internados em unidades de terapia intensiva neonatais. Todas as mulheres em fase de amamentação e que produzam um volume de leite que excede a necessidade de seu filho podem doar. As lactantes também devem ser saudáveis e não podem fazer uso de medicamentos que impeçam a doação. Diferente da doação de sangue que necessita de coleta presencial, a doação de leite humano pode ser feita em casa e aos poucos, conforme orientações de higienização e armazenamento adequados.
Para se tornar doadora, basta entrar em contato com o BLH mais próximo e realizar um cadastro mediante apresentação dos últimos exames de sangue. A equipe irá orientar sobre a forma correta de coletar o leite. O leite humano a ser doado pode permanecer congelado por 15 dias. Antes deste período, a nutriz deve entrar em contato para providenciar a coleta em seu domicílio. Para esclarecer dúvidas, consulte o site da Rede Brasileira de Leite Humano ou ligue gratuitamente para 0800 026 8877.
A experiência brasileira
Embrião da iniciativa que tornou o Brasil exemplo mundial em tecnologia para redução da mortalidade infantil e erradicação da desnutrição neonatal, o BLH do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), o primeiro do país, sedia o Centro de Referência da Rede Global. Apenas em 2016, a rBLH-Br beneficiou mais de 165 mil recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo) e realizou mais de dois milhões de atendimentos relacionados a dificuldades sobre aleitamento materno. A dimensão do projeto também pode ser avaliada por seus resultados no que se refere à doação. No ano passado, aproximadamente 182 mil litros de leite foram coletados.
Na Fiocruz, desde o início, o trabalho de pesquisa no BLH foi pautado no investimento em tecnologia moderada e de baixo custo, mas sensíveis o suficiente para assegurar um padrão de qualidade reconhecido internacionalmente. “O exemplo mais emblemático que temos de uma dessas soluções tecnológicas de baixo custo são os frascos para o condicionamento de leite. Em 1985, os frascos utilizados eram feitos de silicone por dentro e tinham que ser importados, o que gerava um custo muito alto. Quando começamos a procurar alternativas para esse uso, descobrimos que frascos recicláveis de maionese ou café solúvel não apresentavam diferenças significativas em termos imunológicos ou microbiológicos. Isso possibilitou uma redução de custos de cerca de 85%”, destaca o coordenador da Rede.
Todo leite coletado passa por etapas de análise imunológicas e microbiológicas. Contudo, o trabalho nos Bancos de Leite Humano não se restringe à pesquisa básica, mas une esforços no que se trata da aplicação clínica ou da vida cotidiana dos pacientes. “No IFF, logo percebemos que não adiantava focar só na questão do leite, era preciso uma intervenção mais direta, observando o aleitamento em um contexto mais ampliado de saúde pública: a saúde da criança começa com a saúde da mulher”, explica a gerente do Banco de Leite Humano do IFF/Fiocruz, Danielle Aparecida da Silva. “É sempre preciso criar uma estrutura de amparo à mãe: quando a criança for para casa, ela precisará mamar no peito e, se é criado um suporte para a mãe antes mesmo disso, na maior parte dos casos, isso se torna possível”, ressalta ela.
De portas abertas para apoiar, proteger e promover a amamentação, apenas o BLH do Fernandes Figueira recebe em média mil mães por mês, que vem tanto da rede privada, quanto da pública, ansiosas por auxílio técnico e emocional. Já no corredor é possível ouvir o chorinho dos pequenos. Muitos chegam a perder peso em função da dificuldade da pega. A conscientização da importância do leite materno exclusivo até os 6 meses de idade e a continuidade como alimento complementar até os 2 anos ou mais começa ainda no pré-natal. Durante os grupos de gestantes é possível tirar as principais dúvidas das futuras mamães, além de desmistificar crenças antigas que possam contribuir para o desmame precoce.
Fonte: Fiocruz
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