Um estudo comandado por pesquisadores brasileiros verificou diferenças na forma de encarar as medidas de contenção do novo coronavírus entre pessoas empáticas e aquelas que são antissociais, conhecidas também como sociopatas.
Enquanto o grupo que sente empatia tende a usar máscara, higienizar as mãos e praticar distanciamento social, os indivíduos marcados pelo transtorno da personalidade antissocial minimizam essas ações e a própria gravidade da Covid-19.
A pesquisa em questão foi realizada pelos professores Fabiano Koich Miguel, do Departamento de Psicologia e Psicanálise do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e Lucas de Francisco Carvalho, da Universidade São Francisco (USF), de Campinas (SP).
A conclusão do trabalho, com explicações dos professores, foi divulgada pela agência de notícias da UEL na quinta-feira, dia 27. Desde então, repercutiu em alguns portais estrangeiros, como os britânicos "Metro" e "The Times".
— As diferenças mais significativas foram no nível de engajamento com as medidas de contenção. O grupo empatia respondeu o questionário mostrando maior preocupação em usar máscara, higienizar sempre as mãos, adotar isolamento social para evitar contágio (tanto contrair a doença quanto transmitir para outras pessoas) — afirmou Miguel. — Já o grupo antissocial mostrou menor preocupação com essas medidas, minimizando sua importância ou minimizando a doença.
Miguel relatou que foram ouvidas 1.578 pessoas com idades entre 18 e 73 anos que aceitaram convite, feito por meio de redes sociais, para participar. Elas responderam a dois questionários visando a avaliar a personalidade antissocial (PID-5) e a empatia (ACME).
De acordo com o professor, o teste PID-5 avalia a frequência de comportamentos antagonistas, como a sensação de estar desconectado de outras pessoas. Já o ACME avalia a capacidade de se colocar no lugar de outras pessoas, entender motivos e sentimentos.
Um terceiro questionário foi criado pelos próprios pesquisadores especialmente para este estudo, considerando a experiência do entrevistado com a pandemia. Ao todo, foram feitas 122 perguntas. A coleta de dados ocorreu ao longo de 15 semanas (desde março, no início da quarentena, até junho).
Como forma de tentar contornar o problema de parte da sociedade não adotar as medidas de combate à pandemia, Miguel sugere haver maior investimento por meio de políticas públicas.
— Talvez mais divulgações apresentando a importância das medidas de contenção para o bem de todos, e não apenas no nível individual. Apresentar os benefícios que poderão ser alcançados se todos contribuírem — disse.
Os resultados do estudo foram publicados no volume 168 da revista Personality and Individual Differences – publicação da base internacional Elsevier, com o seguinte título: Compliance with containment measures to the COVID-19 pandemic over time: Do antisocial traits matter? (Conformidade com as medidas de contenção da pandemia Covid-19 ao longo do tempo: as características anti-sociais importam?, em português).
O trabalho contou ainda com a participação de Gisele Magarotto Machado, orientanda em nível de mestrado do professor Lucas de Carvalho, e Giselle Pianowski, que realizou pós-doutorado na USF.
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