No oásis do gari Luiz Antônio Thomaz, de 59 anos, as letras matam a
sede. Escritores como Thalita Rebouças e Ziraldo são os heróis desses
espaços encantados, capazes de seduzir tanto o aposentado Sebastião
Marinho, de 52 anos, quanto os filhos da dona de casa Ana Lúcia Alves,
de 29: as bibliotecas parque. Inauguradas em clima de euforia, as
instituições da Rocinha e de Manguinhos se tornaram refúgios dos
moradores. E revelam um gosto todo especial por autores brasileiros.
—
Thalita Rebouças, Ruth Rocha, Ziraldo, Zíbia Gasparetto, Maurício de
Souza, ninguém bate estes autores — conta Iracema Massaroni,
bibliotecária da Rocinha.
Seu Sebastião já é conhecido entre os
funcionários. Apaixonado por livros desde a infância, o aposentado teve
dificuldades de manter o hábito da leitura durante a vida adulta, porque
os livros se tornaram caros e inacessíveis. Agora, sua paixão está ao
alcance das mãos.
— Pego um livro de 400 a 500 páginas e acabo com
ele em quatro dias, no máximo. Agora, que estou afastado do trabalho,
aproveito todo o tempo vago para ler. Foi a melhor coisa que já
aconteceu — comemora o animado leitor da Rocinha.
Em Manguinhos,
Ana Lúcia Alves transformou a biblioteca em espaço de lazer para os
filhos de 8 anos, 6 e 3 anos. E espera vê-los crescer entre livros.
— A maior já chega procurando o computador e a menor, os brinquedos. Às vezes, leio histórias para eles — conta a dona de casa.
Logo
após a saída da escola, no turno da manhã, a biblioteca da Rocinha é
dominada por grupos de adolescentes. Eles lotam os sofás coloridos e,
rapidamente, como quem conhecem cada canto do espaço, buscam as estantes
de seus gêneros preferidos e fazem a leitura ali mesmo.
— No
primeiro dia, chegaram todos ao mesmo tempo, gritando e correndo pelos
livros. Hoje, já se punem pelo barulho e estão focados em suas leituras —
elogia Luis Lemos, coordenador da biblioteca da Rocinha.Em Manguinhos,
no fim do dia, adultos batem ponto na biblioteca. O diretor, Alexandre
Pimentel, assiste a uma revolução cultural na comunidade. Vários
moradores mudaram suas vidas com a experiência da leitura:
— Eles começaram a escrever livros, poemas. Estão virando, agora, os artistas de Manguinhos.
Escritores à vista.
‘É um oásis dentro de Manguinhos’
Luiz Antônio Thomaz
59 anos, gari, morador de Manguinhos
“Moro
em Manguinhos há mais de 20 anos, e nunca vi nenhuma intervenção tão
importante quanto esta. Desde a inauguração, há mais de dois anos, venho
aqui todos os dias depois do trabalho. Já li mais de 20 livros, o que é
mais do que li a vida inteira. Quando vejo, já passei horas aqui lendo
as coisas mais variadas.
É um momento de relaxamento, mas também
estamos adquirindo conhecimento. Para as crianças, então, é muito
importante. Comprar livro é muito caro, e os moradores da comunidade não
têm condições de pagar. Agora, temos acesso livre a qualquer título, a
todo tipo de informação. Aqui é um verdadeiro oásis dentro de
Manguinhos”.
Contadores de história para os pequenos
Não
são apenas os livros e os computadores que fazem a alegria da garotada
em Manguinhos e na Rocinha. Nas ludotecas, espaços destinados
exclusivamente a crianças com até 10 anos, as crianças se divertem com
brinquedos, e, muitas vezes, ouvem histórias contadas de forma lúdica
pelos funcionários.
— Aqui, sei que ela está em segurança e com a
cabeça ocupada por coisas úteis. Ela mesma já me pede para vir todos os
dias — diz Raquel Gonçalves, moradora da Rocinha, referindo-se à filha
Ingrid Gonçalves, de 6 anos, que já tem inclusive carteirinha da
biblioteca.
Lá na Rocinha, os cursos também são um grande atrativo
da biblioteca parque. Agora no fim de novembro, por exemplo, começou o
primeiro: culinária sustentável. Os alunos já estão aprendendo como
cozinhar aproveitando partes de alimentos, como cascas, e recebendo
também dicas de uma alimentação saudável.
— Nas comunidades, as
casas costumam ser muito pequenas. O espaço da leitura e do estudo é
dividido com o da televisão, da brincadeira. Aqui na biblioteca, não. As
pessoas encontram um ambiente confortável e calmo para, por exemplo,
estudar para um vestibular ou mesmo um concurso público — lembra a
bibliotecária Iracema Massaroni, da Rocinha.
Point concorrido
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Inaugurada
em abril de 2010, a biblioteca de Manguinhos possui em seu acervo
26.000 livros. São 5.250 associados, e já foram feitos 38.919
empréstimos. Os livros "Fala sério, mãe", "Fala sério, amiga" e "Fala
sério, amor", de Thalita Rebouças, lideram a lista dos mais pedidos.
32.504 visitas
Inaugurada
em junho de 2012, a biblioteca da Rocinha tem 10.482 livros. São 1.944
associados, e já foram feitos 5.316 empréstimos.
Fonte : Jornal Extra
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