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Jovens escritores demonstram interesse por contos

Dizer muito em pouco. Esta é a tarefa de quem se aventura a escrever um conto. Já dizia o mestre dos contos policiais, Edgar Allan Poe, “um texto de ficção deve ser lido em uma tacada só, sem interrupções ou interferência do mundo externo para que não haja o rompimento do pacto firmado entre autor e leitor, que ao retomar a leitura não é mais o mesmo”. Cumprir essa tarefa, no entanto, não é missão das mais fáceis, mas talvez seja justamente por isso que ela venha despertando o interesse dos jovens escritores, motivados pelo desafio. O imediatismo da sociedade contemporânea também contribui para que o gênero literário de leitura rápida (e não fácil), outrora adormecido e deixado de lado pelas editoras, volte a ganhar espaço. Em Niterói, cidade que vem se destacando como o berço de jovens autores, novos talentos já debruçam sobre o gênero. 

Entre eles está a jornalista Raquel Medeiros, de 35 anos, com seu recém-lançado “Contos da Chaleira”, editado pela Ibis Libris. Raquel conta que a vontade de escrever contos começou ao ler Lygia Fagundes Telles. 

“Sempre gostei de textos curtos, adorava ler crônicas nos jornais e foi isso, inclusive, que me levou a optar pela faculdade de Comunicação Social, onde comecei a escrever, despretensiosamente, devaneios e poesias. Mas foram os textos desta autora que me despertaram o interesse em escrever algo mais sério, publicável”, diz Raquel. 

Não à toa, o primeiro conto do livro de estreia de Raquel, que traz 26 ao todo, se chama “A menina que roubava livros de Lygia Fagundes Telles”, em homenagem à contista brasileira. 

Para Raquel, derrubando a tese preconceituosa de que o gênero, devido aos textos curtos, é uma literatura fácil, secundária, o que provoca um impacto negativo (basta observar a pouca oferta de livros de contos nas livrarias), escrever contos requer muita habilidade. 

“É um gênero difícil de escrever e, por isso, o encarei como um desafio. Os elementos como enredo, personagem, tensão e desfecho precisam despertar no leitor a vontade de continuar lendo. E, para isso, é preciso saber o momento exato de narrar os acontecimentos e encerrar o texto”, observa. 

Inspiração na juventude e incentivo das editoras

Outro jovem autor que se enveredou pelo mesmo caminho é o jornalista Paulo Henrique Brazão, de 28 anos. Ele, que já havia participado de uma coletânea de contos de 20 autores, intitulada “Dominação”, promovida pela Bienal do Livro do Rio, em 2009, lançou, no final do ano passado, “Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades”, pela Editora Faces, com 20 contos escritos quando era ainda mais jovem: dos 18 aos 20 anos. O livro foi “relançado” em Niterói no último dia 20 de outubro, na Livraria Gutenberg, em Icaraí. 

A opção pelo gênero também foi feita na faculdade. O que começou como um exercício para treinar seu poder de síntese, lhe despertou o interesse pela escrita. Ele conta que mesmo não sendo um gênero muito difundido – para ele, são raros os casos de sucesso, salvo grandes nomes como Veríssimo –, a possibilidade de escrever histórias curtas o atraiu, influenciado por dois autores em especial: Lygia Fagundes Telles e Nelson Rodrigues. De Lygia, destaca o conto “Venha ver o pôr do Sol”. Já em relação a Nelson, ele conta que assistiu ao quadro “A vida como ela é” exibido no Fantástico, da Tv Globo, e se encantou com o fato de o autor narrar uma situação apenas, “olhar um pedacinho da história”. 

“É incrível o poder que ele tinha de escrever histórias breves, com um olhar direcionado para uma mesma situação e de uma forma tão envolvente”, observa. 

No livro, dividido em três partes, a inspiração rodriguiana está na primeira delas, “Desilusões”, que reúne histórias de decepções e rancores. Em “Devaneios” estão os contos mais sarcásticos e inusitados, com um humor que, às vezes, brinca com o absurdo. E em “Outras Sentimentalidades” estão apenas dois contos: um curtíssimo sobre uma tragédia da humanidade e outro, um romance que começa com um acidente em um casamento, o mais longo conto da coletânea.

No caminho certo 

Mas se por um lado, o gênero ainda tem pouco espaço no mercado editorial, algumas ações de editoras têm ajudado a promovê-lo entre os jovens. Uma delas é o projeto Berçário de Talentos, da Editora Faces, que visa revelar novos escritores com menos de 26 anos. Em duas edições o projeto já revelou dois jovens talentos de Niterói: a estudante de Direito, Giulia Willcox, 19, e a estudante de Comunicação Social, Júlia Anjos, também de 19. 

Júlia participou junto com outros 18 jovens do segundo volume, publicado este ano, intitulado “Tragédia Nossa de Cada Dia”. A jovem, cujo gosto pela escrita é fruto do incentivo que teve na escola – da 5ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio teve seus textos selecionados e publicados em coletâneas escolares –, destaca o fato de o gênero permitir que ela escreva sobre várias coisas, não se prendendo a uma história central, além de dar maior liberdade para que ela se dedique a outras atividades como a faculdade. 

“Às vezes me deparo com alguma situação no dia a dia que acho que rende uma história e simplesmente escrevo. O legal do conto é que ele permite isso”, reforça Júlia, que tem como referência escritores como Martha Medeiros, Machado de Assis e J. K. Rowling. 

 Já Giulia foi uma dos 13 jovens selecionados entre centenas de inscritos para a coletânea que encabeçou o projeto: “Sexo para iniciantes”, lançado em 2011. 

“Eu tenho um blog onde escrevo meus desabafos, coloco para fora meus sentimentos e pensamentos e o Zeca Fonseca, que é editor do projeto, leu, gostou e fez um convite para eu participar. Foi um desafio para mim pelo tema, mas resolvi aceitá-lo”, conta. 

Sobre a preferência pelo gênero literário, a jovem encara a escolha como um dom. 

“Dizem que meus textos são de tiro curto. Curtos, mas intensos. O que é bom na internet. Escrever é uma forma de transformar o caos dentro de mim em cosmos”, dispara. 

Giulia revela, contudo, que está amadurecendo a ideia de escrever um romance, porém, como estuda Direito e a faculdade lhe toma tempo, os contos são ideais para não deixar a paixão pela escrita de lado. Além disso, o estudo do código penal a tem inspirado a escrever um tipo específico de conto: 

“Estou começando a escrever contos policiais. O estudo penal me despertou o interesse por esse lado”, revela a jovem.

Fonte : O Fluminense

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