Pular para o conteúdo principal

Quase 12% dos partos realizados no Brasil são prematuros, diz Unicef

Uma nova pesquisa sobre o nascimento de crianças no Brasil, liderada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com outras 12 universidades do país, com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e com o Ministério da Saúde, revela que 11,7% dos partos brasileiros são prematuros – nascidos abaixo de 37 semanas de gestação.

Esse dado é referente ao ano de 2010 e revisa para cima os números do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Sistema Único de Saúde (SUS), que apontava uma taxa de prematuridade de 7,2%.
O estudo "Prematuridade e suas possíveis causas" investigou o número de bebês nascidos antes do tempo e com baixo peso (abaixo de 2,5 kg). Segundo os autores, tem havido um crescimento nas taxas de prematuridade do país – que, por outro lado, vem reduzindo os índices de mortalidade infantil. 
De acordo com o Ministério da Saúde, a prematuridade é a principal causa de morte no primeiro mês de vida – cerca de 70% dos óbitos de crianças ocorrem nos primeiros 28 dias após o nascimento. Atualmente, a taxa de mortalidade de crianças abaixo de 1 ano é de 16 por mil nascidos vivos, segundo a Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa).
Em relação aos números de prematuros, o Brasil está em décimo lugar entre os países em que mais nascem bebês antes do prazo, o que o coloca no mesmo patamar dos países de baixa renda, onde a prevalência é de 11,8%. Já nas nações de renda média, o percentual é de 9,4%, segundo o relatório "Born too Soon" divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano passado. Em 2010, 15 milhões de crianças nasceram prematuras em todo o mundo.
Regiões, etnia e idade da mãe
Um dado curioso revela do pelo estudo é que as regiões mais desenvolvidas do Brasil (Sul e Sudeste) são as que apresentam os maiores percentuais de prematuridade: 12% e 12,5%, respectivamente. Em seguida, vem o Centro-Oeste (11,5%), o Nordeste (10,9%) e o Norte (10,8%).

Outra conclusão que chama a atenção é que a cor da pele e a etnia da mulher parecem influenciar no nascimento dos filhos. As mães indígenas apresentaram o maior percentual de bebês prematuros: 8,1%. Depois, estão as mulheres negras (7,7%), pardas (7,1%) e amarelas (6,3%).
Um terceiro fator que pode influenciar nos partos prematuros é a idade da mãe, revela a pesquisa. Entre gestantes abaixo de 15 anos, a prevalência foi de 10,8%, contra 6,7% entre grávidas na faixa dos 20 aos 34 anos.
Baixo peso ao nascer
O estudo também investigou os dados de baixo peso das crianças ao nascer. O percentual tem se mantido estável desde o ano 2000, em cerca de 8% do total de nascimentos.

Fatores como raça, etnia e idade da mãe também influenciam na prevalência do baixo peso ao nascer. Mulheres negras respondem pelo maior percentual (9,4%), seguida das brancas (8,3%) e pardas (8,2%).  A menor taxa encontrada foi entre as mulheres amarelas e indígenas: 7,6% e 7,7%, respectivamente.
Por região, novamente o Sul e o Sudeste tiveram as maiores taxas de baixo peso ao nascer, enquanto as menores ficaram com Norte e Nordeste. Esses percentuais não são compatíveis com o nível de desenvolvimento dessas regiões, nem com os avanços dos indicadores de saúde materno-infantil, segundo o estudo.
Cesarianas
A pesquisa aponta, ainda, uma relação entre o aumento da prematuridade e o número de cesarianas feitas no país. As mais altas taxas são observadas nas regiões mais desenvolvidas (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), enquanto as mais baixas estão no Norte e Nordeste. Entretanto, para estabelecer essa ligação com mais exatidão, serão necessários estudos mais aprofundados.

O Brasil tem as mais altas taxas de cesarianas do mundo. A frequência aumentou de 37,8% de todos os partos, em 2000, para 52,3% em 2010. A OMS recomenda que a taxa de cesariana não ultrapasse os 15%, e alerta que o excesso de partos agendados aumenta a mortalidade de mães e crianças.
Para o representante do Unicef no Brasil, Gary Stahl, esse estudo reforça a urgência de esclarecer a relação de causa e efeito entre cesariana e prematuridade.
"Isso contribuiria para reduzir a epidemia de cesarianas no Brasil e reverter o quadro de prematuridade", diz.
'Compromisso com a sobrevivência infantil'
O trabalho da UFPel e outras instituições em conjunto com o Unicef também pretende contribuir para o "Compromisso com a sobrevivência infantil: uma promessa renovada", iniciativa do Unicef e dos governos dos EUA, Índia e Etiópia, em apoio à estratégia "Toda Mulher, Toda Criança", lançada em 2010 pela Assembleia Geral da ONU.

O objetivo é acelerar os esforços dos governos e da sociedade para reduzir as mortes evitáveis de crianças com até 5 anos de idade, dando ênfase aos primeiros dias de vida. Até 2035, a meta é reduzir a mortalidade infantil para 20 ou menos óbitos por mil crianças nascidas vivoas em todos os países.
Para países como o Brasil, onde a taxa de mortalidade na infância está abaixo de 20 por mil, o desafio é reduzir a taxa nas populações mais vulneráveis. Segundo o Unicef, o cumprimento dessa meta histórica salvará a vida de mais 45 milhões de crianças até 2035.
Fonte: G1

Comentários

Populares

UFF Responde: Hanseníase

  A hanseníase carrega um histórico marcado por preconceito e exclusão. Por décadas, pacientes foram afastados do convívio social, confinados em colônias devido ao estigma em torno da doença. Hoje, embora os avanços no diagnóstico e no tratamento tenham transformado essa realidade, o combate ao preconceito ainda é um desafio. No Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, neste ano celebrado em 26 de janeiro, a campanha do “Janeiro Roxo” reforça a importância da conscientização, do diagnóstico precoce e da adesão ao tratamento gratuito oferecido pelo SUS, que ajuda a desconstruir mitos e ampliar o acesso à saúde. Em 2023, de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados 22.773 novos casos da doença no Brasil. Por isso, a Estratégia Nacional para Enfrentamento à Hanseníase, estabelecida para o período 2024-2030, trouxe metas importantes, como a capacitação de profissionais de saúde e a ampliação do exame de contatos, que visam à eliminação da hanseníase como problema de...

Morte de turista no Cristo Redentor: cardiologista explica como um desfibrilador poderia ter evitado a tragédia

  A morte do turista gaúcho Jorge Alex Duarte, de 54 anos, no Cristo Redentor, no último domingo, trouxe à tona a falta de estrutura para atendimentos de emergência em um dos principais cartões-postais do Brasil. Jorge sofreu um infarto fulminante logo após subir parte da escadaria do monumento, mas não havia socorristas nem um desfibrilador disponível no local. Para o cardiologista e professor do Curso de Medicina da Unig, Jorge Ferreira, o uso rápido do equipamento poderia ter feito toda a diferença no desfecho da tragédia. "O desfibrilador é o principal aparelho que precisa estar disponível em casos de parada cardíaca. Ele funciona como um relógio da sobrevida: a cada minuto sem atendimento, as chances de sobrevivência diminuem. Se o paciente tiver um ritmo chocável (quando é necessário um choque elétrico para voltar à normalidade), o desfibrilador pode aumentar significativamente as chances de salvá-lo", explica o médico, que também é coordenador do Laboratório de Habili...

Anvisa aprova 1ª insulina semanal do país para o tratamento de diabetes tipo 1 e 2

  A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta sexta-feira (7) a primeira insulina semanal do mundo para o tratamento de pacientes com diabetes tipo 1 e 2. O medicamento insulina basal icodeca é comercializado como Awiqli e produzido pela farmacêutica Novo Nordisk, a mesma que produz Ozempic. A aprovação foi baseada nos resultados de testes clínicos que mostraram que o fármaco é eficaz no controle dos níveis de glicose em pacientes com diabetes tipo 1, alcançando controle glicêmico comparável ao da insulina basal de aplicação diária. Os pacientes que utilizarama insulina basal icodeca mantiveram níveis adequados de glicemia ao longo da semana com uma única injeção. O medicamento também demonstrou segurança e controle glicêmico eficaz, comparável ao das insulinas basais diárias, em pacientes com diabetes tipo 2. A insulina icodeca permitiu um controle estável da glicemia ao longo da semana com uma única injeção semanal, sendo eficaz em pacientes com diferentes ...

Vacina brasileira contra dengue estará no SUS em 2026, diz governo

  O governo anunciou, nesta terça-feira, a incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS) da primeira vacina brasileira contra a dengue de dose única, produzida pelo Instituto Butantan. Isso vai valer a partir de 2026. O imunizante será destinado para toda a faixa etária de 2 a 59 anos e será produzido em larga escala, de acordo com o governo. O anúncio foi feito em cerimônia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Segundo o governo, a partir do próximo ano, serão ofertadas 60 milhões de doses anuais, com possibilidade de ampliação do quantitativo conforme a demanda e a capacidade produtiva. Fonte: Jornal Extra

UFF Responder: Dengue

 🦟 A elevação do número de casos de dengue no Brasil tem sido motivo de preocupação no âmbito da saúde pública. Entretanto, com a campanha de vacinação, a esperança é que a população esteja imunizada e que a mortalidade caia.  🤔 Para esclarecer as principais dúvidas acerca da dengue, conversamos com a professora Cláudia Lamarca Vitral, do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFF. 💬 A docente aborda temas como as razões para o aumento dos casos, as diferenças entre os sorotipos do vírus, sintomas, infecções simultâneas e as principais medidas no combate à proliferação da doença. Além disso, também elucida questões sobre a tão esperada vacina. Leia a matéria completa pelo link: https://bit.ly/3SuOZXV #UFFResponde