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Luiz Rogério Pires de Mello: “Devo tudo o que sou na medicina ao Antônio Pedro”

Médico otorrinolaringologista e ex-professor universitário trabalhou por mais de 50 anos no Hospital Universitário da UFF

Nascido em 1937, na casa onde hoje fica sua clínica, no Fonseca, em Niterói, o médico otorrinolaringologista e professor universitário aposentado, Luiz Rogério Pires de Mello, tem uma história de gratidão com o Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), com uma vida profissional dedicada à instituição. Doutor Rogério, nosso entrevistado, é casado há 58 com Lenise, com quem tem três filhos médicos Gisella, Andréa e Rogério Neto e também foi agraciado com duas netas estudantes de medicina Ana Carolina, Kylza e o pequeno, Bento, de sete anos.
Trajetória no Huap
O médico iniciou sua carreira no Huap em 1956, como estagiário do Laboratório de Análises Clínicas. No ano seguinte, já fazia parte do quadro permanente do hospital na função Técnico de Anestesia. Paralelamente, exerceu a função de interno acadêmico do Pronto-Socorro. No sexto ano da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFERJ), atual Universidade Federal Fluminense (UFF), foi estagiário da Maternidade. Logo após a residência médica no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HSE) e de sua formatura em 1962, foi nomeado como médico Otorrinolaringologista do Hospital Universitário. De 1979 a 2007 (28 anos), exerceu a função de Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital.
Faculdade de Medicina da UFF
O doutor também dedicou sua carreira à docência universitária na ambiência da UFF. Em 1960, no início de sua atividade acadêmica, foi interno e monitor da disciplina de Otorrinolaringologia. Em 1978, com a aposentadoria do professor e tio Sylvio Pires de Mello, foi escolhido pela Congregação da Faculdade de Medicina da UFF, como coordenador interino da disciplina de Otorrinolaringologia, cargo que ocupou por 16 anos, até 1994, quando se habilitou oficialmente a titular. Ainda de 1989 a 1995, foi eleito e reeleito chefe do Departamento de Cirurgia Geral e Especializada da Faculdade. Somente na altura dos 57 anos, embora desse aulas desde os 26, ingressou, por meio de concurso público de provas e títulos, mediante uma banca examinadora de cinco professores, para o cargo de professor titular da Universidade. Formando alunos e médicos residentes até completar os seus 70 anos, quando era alcançada a aposentadoria compulsória do servidor público, totalizando, assim, nada mais e nada menos do que cindo décadas e um ano de serviços prestados à saúde pública e ao ensino superior niteroiense.
Exerceu ainda por 24 anos, a função de membro da Comissão de Médicos Residentes da Faculdade de Medicina da UFF e foi organizador de nove cursos de Otoneurologia, com o aval da mesma Faculdade, - além de um vasto currículo fora dos muros da UFF, a exemplo da PUC-Rio e da Faculdade de Medicina de Campos (FMC), como professor em sua especialidade médica.
Atualmente aos 81 anos de idade, dono de uma disposição ímpar e com um plano de exercícios físicos na academia, o otorrinolaringologista e ex-professor universitário permanece em plena atividade atendendo cerca de 120 pacientes por semana, na tradicional clínica, fundada em 1962, que leva o nome de seu avô, “Luiz Pires de Mello”, nos bairros de Icaraí e Fonseca, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Em uma conversa com a Unidade de Comunicação Social (UCS/Huap), na sua clínica, em Icaraí, o médico contou um pouco de sua história no hospital universitário.
Confira:
Como surgiu o amor pela profissão (medicina)?
Meu pai teve três irmãos médicos. Desses, dois também eram professores e um deles era otorrino, o professor Sylvio Pires de Mello (da UFF). Daí, eu sempre me entusiasmei pela medicina. Eu já entrei na escola com o intuito de fazer otorrino. No segundo ano de faculdade, já estava trabalhando como otorrino no “Antônio Pedro”. Eu não poderia começar antes do quarto ano... Mas tive sorte, minha família era querida...

Por que primeiro médico e só décadas depois professor universitário titular da UFF?
Quando o “Antônio Pedro” surgiu, os alunos que se destacavam à época eram convidados para dar aula (o que aconteceu em 1963). Então, eu era médico e dava aula. Mas, depois, houve uma alteração na reitoria (da UFF) que só poderia dar aulas quem fosse professor. Então, foram se abrindo os concursos e eu fiz concurso público para professor e também continuei como médico. Nós trabalhávamos no mesmo setor. Apenas o professor poderia atender e dar aulas. Os médicos ficavam no atendimento. Essa mudança aconteceu com o tempo.

Como foi trabalhar por cinco décadas no mesmo hospital universitário?
Foi uma emoção muito grande. Eu devo tudo o que tenho e tudo o que sou ao “Antônio Pedro”. Aprendi tudo com um staff de professores de primeiro nível da própria cidade de Niterói e alguns que vieram do Rio de Janeiro. Eu me lembro quando eu era acadêmico em medicina, nos concursos para acadêmico remunerado geralmente os primeiros lugares eram tirados pela média dos que estudavam no “Antônio Pedro”. De fato, sabemos das dificuldades vividas em todos os hospitais pela falta de dinheiro, estrutura, uma dificuldade até moral para os hospitais, mas o Hospital Antônio Pedro ainda continua muito bom. O que sai do “Antônio Pedro”, sai para saber trabalhar.

Qual foi o maior desafio na vida profissional no Huap?
O maior desafio foi logo o primeiro. Nós havíamos sido chamados de Petrópolis, logo após o nosso baile de formatura, para abrirmos o Hospital Antônio Pedro para colocarmos os queimados (tragédia do Gran Circus Norte-Americano, em dezembro de 1961, Niterói - RJ). Nós não sabíamos praticamente nada sobre queimados. Eu me sinto muito feliz, pois quando o incêndio do circo fez 50 anos, fui praticamente o único médico não plástico (otorrino) a receber uma medalha do professor Ivo Pitanguy, no Hotel Glória. Ele se lembrava de mim! Eu nunca me interessei por ser cirurgião plástico, mas eu tinha muito interesse pelos queimados, na situação da sobrevida. E o doutor Pitanguy deu muito apoio aos médicos do “Antônio Pedro” e, inclusive, um dos médicos da época que lutou muito pelos queimados foi o professor titular da cirurgia plástica do hospital, Ramil Sinder.

Por que essa gratidão eterna ao Huap?
Tudo o que sou na medicina devo ao “Antônio Pedro”. Eu sou “cria” do “Antônio Pedro” (interrompe o relato, emocionado). Eu trabalhei no hospital por 51 anos, até completar os 70 anos de idade. Embora eu tivesse trabalhado em vários lugares e dado aulas em algumas instituições, o “Antônio Pedro” foi a minha vida. A minha base de aprendizado, de moral e decência médica foi toda aprendida com os médicos mais antigos do “Antônio Pedro”.

Qual é a mensagem para os alunos e residentes em formação hoje no Huap?
Os alunos novos devem esquecer a política, a vaidade e se fixarem no Hospital Antônio Pedro. Não vai ser na conversa de bar, discutindo bobagens ou reclamando que irão melhorar as coisas. Se o Hospital Antônio Pedro está ruim, vamos ajudar, vamos tentar melhorá-lo. Também é importante estudar bastante! Eu acho que o médico deve esquecer um pouco a vida social, a vida mundana e se dedicar à Medicina. O médico está para diagnosticar, para salvar as pessoas e trabalhar com seriedade.

Por que trabalhar aos 81 anos?
Eu gosto de trabalhar. Espero trabalhar até morrer, embora não precise. De fato, eu não sei viver sem a medicina, inclusive, trabalhando, você evita muitas vezes de ficar doente, deprimido e de se alimentar mal. Eu tenho um legado muito grande. Consegui que toda a minha família fosse de médicos. Tenho três filhos médicos, duas netas que estudam medicina e um netinho (Bento), de sete anos, que também quer ser médico. Eu não obriguei nenhum deles a fazer medicina. Eu e meu irmão (Luiz Fernando Pires de Mello) temos uma família de médicos e somos muito felizes e, sobretudo, honrados pelos filhos que nos sucedem.

Unidade de Comunicação Social (UCS)

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