A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova
indicação para a vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV): o
câncer anal. As três doses recomendadas, que ainda não estão disponíveis
no Sistema Único de Saúde (SUS) – apenas na rede privada –, já têm sido
usadas para prevenir o câncer do colo do útero.
A aplicação da vacina de HPV tem maior eficácia se for feita antes do
início da atividade sexual de mulheres e homens, principalmente na faixa
dos 9 aos 26 anos. Isso porque, nessa fase, as pessoas ainda não se
expuseram tanto ao vírus, que é uma doença sexualmente transmissível
(DST).
A decisão da Anvisa se baseou em um estudo da Universidade da
Califórnia em San Francisco, nos EUA, que foi publicado em outubro de
2011 na revista científica "New England Journal of Medicine".
A pesquisa mostra que a vacina de HPV para evitar o câncer anal é
segura e eficaz, e que, embora esse tipo de tumor seja menos comum, o
número de casos tem aumentado muito nos últimos anos nos EUA,
principalmente entre homens homossexuais e pacientes com HIV.
Segundo o professor Joel Palefsky, que conduziu o estudo clínico com
602 voluntários homens, quase 6 mil americanos são diagnosticados por
ano com câncer anal, e mais de 700 morrem. O trabalho aponta, ainda, que
a infecção pelo HPV é a mais comum por via sexual no país.
Os homens analisados eram homossexuais de países como EUA, Canadá,
Brasil, Austrália, Croácia, Alemanha e Espanha. Todos haviam mantido
entre um e cinco encontros sexuais quando tinham entre 16 e 26 anos. Os
participantes foram divididos em dois grupos: em um, foi aplicada a
vacina Gardasil, que protege contra os quatro principais tipos de HPV
(6, 11, 16 e 18), e o outro recebeu placebo (substância sem princípio
ativo nem efeitos colaterais).
Os tipos 6 e 11 costumam causar verrugas no ânus e nos genitais,
enquanto o 16 e o 18 estão mais envolvidos em casos de câncer. Os
pacientes integraram o estudo entre 2006 e 2008, e foram acompanhados
por mais três anos após a última dose da vacina.
Os resultados mostraram que a imunização diminuiu a incidência de
lesões pré-cancerosas em quase 75% entre os homens que não haviam sido
expostos anteriormente a nenhum dos tipos virais presentes nas doses.
Entre aqueles que já haviam tido contato com essas cepas, a eficácia foi
de 54%.
Câncer anal no Brasil
O câncer anal ocorre no canal e nas bordas externas do ânus. É diferente do tumor colorretal, que atinge as regiões do cólon e reto, segmentos anteriores do intestino grosso.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o tumor do canal anal é
mais frequente em mulheres, enquanto o que surge nas bordas ocorre mais
em homens. A doença é considerada rara, e representa de 2% a 4% de todos
os tipos de câncer que atingem o intestino grosso. A faixa etária mais
predisposta é após os 50 anos, mas adultos jovens têm manifestado
bastante o problema nos últimos anos.
Em 2010, o Inca registrou 274 mortes por câncer de ânus no Brasil – 176
mulheres e 98 homens. Infecções por HPV, HIV e outras DSTs – como
gonorreia, herpes genital, clamídia e condilomatose – estão ligadas ao
tumor anal. Fazer sexo sem camisinha, ter feridas no ânus, altos níveis
de estresse, fazer uso crônico de corticoides (que baixam a imunidade) e
fumar também contribuem para a doença.
De acordo com o cirurgião colorretal Marcelo Averbach, do Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo, o câncer anal provoca lesões na borda da
região e desconforto ao evacuar. O cirurgião do aparelho digestivo Fabio
Atui, do ambulatório de proctologia e DST/Aids do Hospital das Clínicas
(HC) da USP, diz que também pode haver endurecimento da borda anal e
sangramento, o que leva a pessoa a achar que tem hemorroida. Dor, ardor,
coceira, secreções, alterações dos hábitos intestinais e incontinência
fecal são outros sinais que podem ocorrer, diz o Inca.
"O diagnóstico é feito com um toque retal e um esfregaço que usa uma
escovinha semelhante à do papanicolau no colo do útero. Já o tratamento é
por rádio e quimioterapia, e eventualmente se indica cirurgia", explica
Atui. As chances de cura são grandes quando a doença é detectada em
estágio inicial.
Segundo o médico, a vacina de HPV pode, no futuro, também ser indicada
contra câncer de boca e garganta, outros tipos ligados a esse vírus.
Atui ressalta, ainda, que a vacina protege apenas contra as quatro cepas
principais, o que não evita que haja infecção ou alguma doença pelas
outras mais de cem variações de HPV.
"A grande maioria da população sexualmente ativa já teve contato com
esse vírus. Com o decorrer dos anos, o próprio sistema imune do
organismo protege contra o HPV. Mas quem tem deficiências imunológicas
fica mais vulnerável", afirma.
Como formas de prevenção, é indicado fazer sexo anal sempre com
preservativo, pois há bactérias no intestino e microfissuras no ânus que
podem facilitar uma infecção. O Inca também recomenda manter uma dieta
balanceada, com pelo menos cinco porções diárias (400 g) de frutas,
legumes e verduras, além de pouca gordura. Além disso, exercícios
físicos regulares reduzem o risco de câncer em geral.
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