A maioria das mulheres se diz acometida por ela num determinado período do mês. E os homens temem sua chegada. Trata-se da tensão pré-menstrual (TPM). Mas a síndrome, que ficou conhecida pelas alterações de humor que provoca, está sendo contestada justamente nesse ponto. Uma pesquisa canadense aponta para falta de evidência científica de que a maioria das mulheres fique irritadiça ou temperamental na fase que antecede o período menstrual. O estudo partiu da premissa de que “o ciclo menstrual humano, historicamente, tem sido o foco de mitos e desinformação, levando a ideias que restringem as atividades das mulheres”.
Um grupo de cinco psicólogas e psiquiatras do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Saúde da Mulher da Universidade de Toronto revisou 47 estudos de língua inglesa que tentaram acompanhar alterações de humor no ciclo menstrual. O resultado, publicado na revista acadêmica Gender Medicine, revelou que apenas sete (14,9%) dos trabalhos encontraram uma associação entre mau humor e fase pré-menstrual. Entre os demais, 18 (38,3%) não encontraram nenhuma associação de humor com qualquer fase do ciclo; 18 encontraram uma associação de humor negativo na fase pré-menstrual combinada com outra fase do ciclo; e quatro (8,5%) mostraram uma associação entre mau humor e uma fase não pré-menstrual.
Além disso, coincidentemente, nenhum dos sete estudos foi feito às cegas: as participantes sabiam o assunto pesquisado e podem ter sido sugestionadas. Diante do resultado, o grupo de pesquisadoras, coordenado pela professora de psicologia e saúde pública, Gillian Einstein, concluiu que os estudos falharam ao demonstrar a existência de uma síndrome pré-menstrual específica de mau humor na população em geral.
Essa crença generalizada, segundo o artigo, perpetua conceitos negativos ligando reprodução feminina com emoções negativas. Além disso, segundo Einstein, a supervalorização da TPM encobriria os reais motivos da irritabilidade feminina: condições estressantes de vida, como acúmulo de tarefas.
As pesquisadoras, no entanto, não contestam a existência do transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) – doença que afeta de 3% a 8% da população feminina e compreende sintomas como depressão, fadiga e insônia; e as alterações físicas causadas pela menstruação, como cólica e inchaço.
A estudante Vivian Marcello Ferreira, 23 anos, concorda que o problema não deve ser generalizado, mas acredita que a TPM existe.
“Sofro muito, tanto fisicamente como emocionalmente. É uma mistura de sensações, fico irritadiça, sensível, choro à toa, fora o inchaço, já que a retenção de líquido é evidente, além da cólica”, lista a jovem, que chega a usar medicamentos para amenizar os sintomas, mas não descarta que haja certa influência do termo sobre as mulheres. “A gente já liga para o namorado e diz que é para ele não procurar porque a gente está de TPM”.
A tese mais aceita hoje é a de que a TPM é uma desordem neuropsicoendócrina com sintomas que afetam a mulher na esfera biológica, psicológica e social. A função fisiológica do ovário seria o gatilho que dispara os sintomas da síndrome, “puxado” pela queda dos níveis hormonais, necessária para que a mulher menstrue. A possível explicação para o mau humor estaria na redução da produção de estrogênio e progesterona nessa fase, o que implica em redução da produção de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores que controlam o humor.
A compulsão por doces seria uma prova da carência de serotonina, já que o açúcar forma uma substância (triptofano) que serve de substituta momentânea da primeira.
A presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio (Sgorj) e diretora administrativa da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Vera Fonseca, explica que algumas mulheres têm a síndrome que antecede a menstruação, mas é um pequeno número. Segundo ela, existe, hoje, um exagero em torno da TPM, uma concepção de que todas as mulheres ficam descontroladas.
“Muitas acham que têm alteração e usam isso como desculpa. Às vezes, é um sintoma que elas apresentam o mês inteiro, num momento da vida, mas põem a culpa na TPM. Às vezes, chegam meninas que mal começaram a menstruar acompanhadas das mães no consultório, e a mãe já fala que a filha está mal-humorada porque vai ficar menstruada. Há uma generalização e banalização dos sintomas. Não é só o mau humor que a caracteriza, aliás, este é o sintoma que o médico menos leva em conta até porque pode estar relacionado a outros sintomas específicos como dor de cabeça, sensação de inchaço, edema, alterações intestinais. A síndrome da TPM é um conjunto de sintomas, e apenas um grupo menor apresenta toda essa sintomatologia”, conclui.
Fonte : O Fluminense
Comentários
Postar um comentário